sexta-feira, abril 27, 2018

E o inverno chegou, chegou, chegou

De repente é sexta e a noite que havia sido fria acorda manhã de chuva intensa. São sete e quinze, mas parece que são seis. O sol não teve coragem de aparecer e eu e ele temos frio. Na varanda as toalhas no varal foram molhadas pelo vento e pela chuva. Vejo pelo vidro quebrado da porta as árvores dos outros quintais balançarem, balançarem. Falei que é sexta? Esta semana foi de meio chuva, meio sol, meio finais de tarde dourados e outros bem cinzentos.




Em certas horas prefiro o barulho da água caindo ao silêncio do verão queimando tudo logo cedo, bem cedo. E então lembro de minha juventude um dia desses certo tempão atrás sem carro, vendo a chuva que parecia adivinhar que era hora de sair para o trabalho. A bicicleta não tinha cobertura, o corpo não tinha cobertura, não há cobertura que proteja um corpo quando o inverno amazônico decide cair. Desaba o céu, caem nuvens, o chão se encharca pouco a pouco e daqui a pouco há poças, lagoas, rios no meio do asfalto. 

O meio do mundo no inverno fica frio. As paredes não queimam mais como antes, os tijolos pegam umidade e o mofo aparece nos cantos. As praias somem e as pessoas se escondem. Toda festa é um risco de sair molhado. A gripe parece estar a postos, esperando sua vez de te abraçar. O inverno, com tudo isso, é bom, é gostoso.

Tomando um cappuccino, lembro de quando ficava olhando pela janela para a rua, esperando a chuva passar para ir ao trabalho, à escola, a algum lugar obrigatório. A vontade era de penumbra e a necessidade era de rua. Quantas vezes pedi para o Tino Cabeção ir me buscar? Quantas vezes ouvi ele dizendo que era a última vez e que precisava comprar um carro? Tino Tinão, gente boa. Melhor caroneiro que já existiu. 

Hoje sou eu o rei das caronas. Levo mulher, levo filho, levo amigos, familiares, levo até a mim para lugares nos quais não quero mas preciso estar. Hoje, já que de chuva e caronas me molho, dei carona até um hospital para uma consulta. Voltei sob chuva, com receio dos malucos no trânsito. Percebi que faça muito sol ou faça muita chuva, a disposição para ser barbeiro não diminui na galera. O povo gosta de viver perigosamente, colocando os outros em perigo, faça verão ou caia inverno.

Chove lá fora ainda. Eu aqui já baixei os artigos científicos que devo ler nos próximos dias, já mandei mensagens engraçadas, já respondi algumas sérias. Só não fui tomar banho de chuva, mas o inverno está só começando e hoje é sexta-feira, dia de pensar nas possibilidades além das responsabilidades. 


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