quinta-feira, janeiro 15, 2015

E (a visão d)o sertão virou (visão do) mar - relato de férias entre o Nordeste e o Sul


No começo de agosto de 2014 tirei as minhas primeiras férias do emprego novo e embarquei numa aventura literária com Jonas Banhos, capitão da Barca das Letras. Direcionamos a navegação para o interior do Estado da Bahia, a sete horas de Salvador, e caímos no Território Indígena Kiriri Canta Galo. 

Esta foi a segunda viagem que fiz com Jonas. A primeira foi para as comunidades ribeirinhas do Amapá, em 2011. A ideia era novamente ajudá-lo em seus trabalhos, desligar do cotidiano jornalístico-enfurnado-em-salas e conviver com os parentes indígenas do Nordeste. 

Fiz várias anotações no bloco de notas do celular, ingenuamente pensando em montar um diário de viagem para publicar aqui depois que retornasse. Insisto em me iludir. Estava quase claro que não ia rolar pegar no material e transformá-lo num texto. Meia preguiça, meia outras coisas para fazer, minha vida é quase inteira procrastinação. E olha que considero o blog como o depósito de minhas memórias...

Como apareceram outras viagens depois dessa, decidi, quase cinco meses depois, resgatar as anotações e usá-las para poder registrar minha vida publicamente em um post sem muita arrumação. Vamos lá, sem muita edição ao que anotei:

5 de agosto de 2014
11h56
Susto em Salvador: cadê a bagagem? Só ficamos eu e o funcionário na esteira. Parecia que a mala tinha ficado em Boa Vista, mas meia hora depois apareceu. A Gol tinha jogado no meio das malas de outros voos.
16h deixamos Salvador. Chegamos em Ribeira do Pombal às 22h10. Muitos vilarejos no meio.






6 de agosto de 2014
Amanhecer frio. Depois esquentou. Tem pinheiros e uma fonte na praça. Ao meio-dia saímos de ônibus para a aldeia Cajazeira.
Cerca de uma hora depois chegamos. A aldeia é formada por casas ao longo de uma rodovia entre duas serrinhas.



Teve passeio para a missa do Bom Jesus da Lapa,  na aldeia Baixa da Cangalha, uma antiga vila de posseiros.
Noite de vento frio. Jonas ronca em cinco estilos diferentes.

7 de agosto de 2014

Chuvisco. Frio. Começam os trabalhos. Muito vento. Serras cobertas pelas nuvens.
Dia de atividades na escola estadual indígena Índio Feliz.  A wi-fi me ajuda a agilizar umas questões. Muito frio e chuvisco o dia todo.
Começamos a montar um blog para a comunidade, mas a net cai e o trabalho para.
Na escola Índio Feliz, da aldeia Kiriri Cajazeira- Bahia

Biblioteca da escola estadual indígena Índio Feliz. Espaço de consulta e crescimento

8 de agosto de 2014

Noite incrivelmente fria na casa baixa do Dernival, nosso anfitrião, e eu, que sempre penso em praia e calor quando imagino a Bahia, reconfiguro minhas ideias sobre o mundo.
"Tem que caminhar antes de morrer. Se não caminhar,  ninguém vê", frase de dona Lucia,  mãe de Dernival.
Banho gelado, estilo serra de Pacaraima. 

Trabalhos literários com o black quilombola Jonas Banhos, da biblioteca itinerante Barca Das Letras, e o professor-liderança Dernival Kiriri, na aldeia Baixa da Cangalha. #SelfieNaBahia

Atividades na aldeia Segredo,  que fica nos limites do Território Kiriri, ao lado da “vila dos brancos” Segredo Novo.
Muitas crianças. Fui falar de cachorrinho de origami e uma delas pediu que fizesse. Fiz um enjambre e ela disse que não queria mais. :-(
Daí fiz um avião de papel e uns dez pediram para fazer. Rolou uma mini oficina de avião de papel.
No final da tarde conheci a cidade de Banzaê, a uns cinco quilômetros de Cajazeira.
Amanhã vamos a mais duas comunidades. 

Cordel de Zanny Adairalba embelezando a biblioteca da escola Índio Feliz na aldeia Cajazeira


9 de agosto de 2014
Amanheceu com o céu aberto, mas logo fechou...
Vamos para Baixa da Cangalha e Baixa do Juá. O dia todo nas duas. Na Cangalha entramos na mata para ver as olarias e as barreiras. Voltamos para Cajazeira cansados e suados. Clica aqui e vê um álbum de fotos de Jonas Banhos no Flickr

Arte e educação na aldeia Baixa do Juá. Só alegria entre os Kiriri. — com Dernival Dos Santos, Jorlanda Calasans, Joe Joe, Mary Dilza Kiriri, Aparecido Oconner, Jovanio Souza, Marilia Santana Santos, Jonas Banhos e Barca Das Letras


A quarta intervenção da Biblioteca Itinerante Infantil Barca Das Letras em Território Kiriri aconteceu na Aldeia Baixa Cangalha




10 de agosto de 2014
Dia dos pais.
Passeio no interior da aldeia,  pelos caminhos da Cajazeira.
"Menino mal ouvido", frase de D. Lúcia para um de seus netos que está desobedecendo. =)

.........
As anotações pararam por aqui

Sei que foram dias de reencontro com coisas que havia muito tempo não fazia, como debulhar feijão, comer castanha de caju assada na mesma hora, dormir cedo...

Foram quatro aldeias visitadas, muitas histórias de lutas pela posse da terra, leituras da história dos Kiriri, cafés da manhã regados a cuscuz, caminhadas pelo sertão e esse frio estranho na Bahia. 

Também ajudei o povo a montar a ideia do blog http://kiriricantagalo.blogspot.com.br/ e sei que até dezembro estavam alimentando o espaço, garantindo o seu lugar na comunicação alternativa. 


Debulhar o feijão para comer o grão... — com Barca Das Letras e Jonas Banhos.

Subindo a Serra da Toca Grande com os Kiriri e Jonas Banhos. #SelfieNaBahia #etnoturismo — com Jovanio Souza, Aparecido Oconner, Barca Das Letras, Dernival Dos Santos, Johnson Pida e Mary Dilza Kiriri.


O octógono do território Kiriri. Conheci quase tudo

Serra da Toca Grande - lar de abelhas bravas


E depois?

Depois, em datas que agora não me lembro mais, voltei com o Jonas para Salvador, via Ribeira do Pombal, e fomos parar na Praia do Forte, onde ficamos dois dias. Deu para visitar uma das bases do projeto Tamar, encantar-se com as lojinhas do área e pegar uma praia tranquilamente.  

Na volta, fiquei em Salvador menos de 24 horas. Graças à dica de um colega, fiquei em um hotel bem em frente ao fórum, perto da cidade velha. Na tarde-noite inicial deu tempo de conhecer o Mercado Modelo no final de tarde, entrar no Elevador Lacerda, no palácio Rio Branco e passear um pouco pelo Pelourinho. Não vi festa e voltei cedo para o hotel. Foi a sorte, pois choveu muito.  

Na outra manhã saí cedo para o Pelourinho. Que ruas são aquelas, com tanta subidas? Consultando um guia que o pessoal do centro de informações turísticas havia me entregue no dia anterior, consegui rodar um bocado e ver, de relance, pelo menos boa parte dos pontos turísticos da área: Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, Fundação Casa de Jorge Amado, Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, Igreja e Convento de São Francisco, entre outros. 

Tive a oportunidade de pegar uma missa na igreja do Rosário dos Pretos e o prazer de ver a turma do afoxé Filhos de Gandhy no Pelourinho. Lamentavelmente, como era sábado, muitos museus só iam abrir à tarde. Mesmo assim valeu muito o passeio. 

A máquina de escrever de Jorge Amado, rascunhos de suas obras e um boneco dele. Valeu o dia no Pelô. #ÍndioNaEstrada

Como é mesmo a letra? "Pra fugir da rotina, praia" do Forte? #ÍndioNaEstrada

Elevador Lacerda e o mar...
"Salve Salvador/ Me bato, me quebro/
Tudo por amor..."
#ÍndioNaEstrada

"Andar com fé eu vou, que a fé não costuma faiá..." #ÍndioNaEstrada

Arte nos becos da Praia do Forte, Bahia (2014) #StreetArt # grafitte #baleiaJubarte

"A canoa virou, marinheiro, oh no fundo do mar tem dinheiro...". #ÍndioNaEstrada

Pelourinho: quem se esforçar conseguirá ver Michel Jackson por aí. #ÍndioNaEstrada

Arte de rua nas ladeiras de Salvador - Bahia, em direção ao Pelourinho (2014) #StreetArt

E (a visão d)o sertão virou (visão do) mar... #ĺndioNaEstradaPraia do Forte

A placa profética, com a seta indicando a próxima parada

Almocei em um restaurante caseiro que abriu cedo, fui para o hotel e peguei um táxi para o aeroporto. Deu R$ 100 a corrida. Ou seja, táxi é caro em Salvador e o aeroporto fica longe que só (e tem uma entrada linda, coberta por bambus, vale destacar).

Peguei o avião e no outro dia estava almoçando em Florianópolis com minha amiga linda, galega e jornalista Carla Cavalheiro, a quem não via desde o começo de 2009. Ao seu lado e em seu coração, o fotógrafo Rubens "Rubinho" Flôres, uma das vozes mais queridas do rádio catarinense e dono de uma das risadas mais gostosas que conheço.

Cinco anos sem ver esse povo lindo: Carla Cavalheiro e Rubinho Flôres
 Dei a sorte de pegar um veranico bacana na ilha, o que me liberou para passear sem medo de ficar congelado. Consegui pegar uma peça do Fita (Festival Internacional de Teatro de Animação) no teatro da UFSC, conhecer uma feira bacana de comida, hortifrúti  e arte que rola toda quarta no campus da universidade, passear no Centro da cidade e sentar à sombra das árvores da praça da Figueira, visitar outra feiras de artesanato que não conhecia e ainda curtir a festa da cultura açoriana de Santa Catarina, realizada na região de Santo Antônio de Lisboa. 

O mais importante da viagem, no entanto, foi reencontrar a linda família Cavalheiro e conversar com eles, almoçar com eles e desfrutar, destaque alto de cada ida a Floripa, do churrasco de seu Nery Cavalheiro, premiado internacionalmente como o melhor assador de carne de toda a América do Sul e adjacências planetárias. Além disso, pude encher a pança com dois pratos da mocotó que a aniversariante Lulú da Serrinha fez para comemorar a data de seu nascimento.

Ainda rolou uma ida a Curitiba, num bate-volta comandado pela Carlinha, que estava querendo ver uma exposição da Frida Kahlo no Museu Oscar Niemeyer (que espetáculo de lugar!). Saímos cedaço, totalmente empolgados, e quando chegamos lá, veio a decepção. Não eram quadros da Frida e sim fotografias da pintora e de sua família...

Checamos o restante do acervo e das exposições (tinha uma linda do fotojornalismo na revista O Cruzeiro), almoçamos lá mesmo museu, partimos para o Jardim Botânico, o GPS parou de funcionar, nos perdemos, ficamos mais de uma hora desorientados, curtimos o jardim e decidimos voltar para Floripa no mesmo dia. Maratona, né? Obrigado, Carlotinha, por ser tão legal. =-)

Florianópolis, cinco anos passados desde a última vez, em um dia de sol e vento frio. .. #ÍndioNaEstrada

Veranicos na avenida Beira-mar, Floripa  #ÍndioNaEstrada


Turismo cultural no 8o Fita. #UFSC #ÍndioNaEstrada — em Florianopolis.

Vou confessar: quando ainda era um #ÍndioNaEstrada, dei umas beijocas na Frida lá em Curita. Acho que lá pelas tantas ela me falou: Hermanito, tu sabes que com mulher de bigode ninguém pode?

Arte e poesia nas ruas de Florianópolis: #ÍndioNaEstrada

Arte nas paredes de Santo Antônio de Lisboa, Florianópolis (2014). #StreetArt

O olho, uma parada meio Iluminatti no Museu Oscar Niemeyer ... #ÍndioNaEstrada #Curita

Dia de sol em Floripa e me encontro com um dos primos dos bichinhos de estimação da Amazônia. #ÍndioNaEstrada

12a edição do prêmio IGK, com Guga Kuerten e Alexandre Pires quebrando tudo no samba e pagode.

Aquela hora em que você pensa: uma reserva indígena aqui na Lagoa vinha bem... #ÍndioNaEstrada — em Lagoa Da Conceição, Florianópolis, Santa Clara, Brazil.

No campus da UFSC, o recado. #ÍndioNaEstrada



Carla Cavalheiro, eu e Frida...

Lulu da Serrinha, rainha do mocotó, Carla  Cavalheiro e Rubinho Flôres

Feira de artesanato e outros produtos no centro de Florianpólis. Rola todo sábado

#ÍndioNaEstrada trazendo e levando o calor

Lá pela UFSC, a feirinha de artesanato, sebo, brechó e produtos agrícolas rola toda quarta. #TurismoCultural #ÍndioNaEstrada — em UFSC.

Toda vez que vejo a figueira da Praça XV, com essas forquilhas segurando seus imensos galhos, penso: se fosse em Boa Vista já tinham dado a ordem de cortar tudo e plantar uma palmeirinha... #ÍndioNaEstrada
#Partiu Espírito Sant...opa, é outra Vitória essa aqui...Pensei que fosse propaganda turística. #ÍndioNaEstrada

Rubinho Flôres, eu, Guga Kuerten e a loira linda Carla Cavalheiro na 12a edição do prêmio IGK

Enfim, essas foram as primeiras férias de meu novo trabalho: nove cidades e comunidades indígenas em 20 dias, um tour Nordeste/Sul, contatos com a cultura indígena nordestina e a herança açoriana em terras catarinas, o mar e o sertão, o frio e o veranico.

terça-feira, janeiro 13, 2015

Um poema: Desenhos

Foi na segunda quando ela chegou aqui

Ou fui eu que a encontrei por aí?

(Confusão, confusões, o que há, o que houve?
 

Só lembro que nas tatuagens escorreguei
E virei a tinta que marcava sua pele

Com desenhos da cidade e mordidas da maloca. 

(Rabiscos de amor não machucam, só delimitam)



(urucum eterno, raízes da pintura dos ancestrais

Rituais de iniciação, noites de lua cheia, tradições,

Um rio agitado, a guerra pela paz, o fim)



Pareceu nova arte contemporânea visual:

Sorrisos repintados a base de suor

E os símbolos em sua perna branca

Puxando pela raiz todo bem, todo mal.

terça-feira, janeiro 06, 2015

A respeito da dialética das gerações




O papel e a nova tela
De ontem à noite, eu lendo Rubem Braga, ele jogando alguma coisa no celular da mãe depois de fazer um ditado. Eu recriando as cenas das crônicas em silêncio, ele praticamente narrando cada movimento feito.

segunda-feira, janeiro 05, 2015

Conversas com Edgarzinho: amor e bolo

Por Lai Dantas, irmã do Edgarzinho

Edgarzinho vai fazer sete anos no próximo sábado e de vez em quando chamo ele para conversar umas coisas. Sim, porque a cada dia ele deixa de ser um bebê (mesmo sendo pra sempre o meu) e estou um pouco arrasada com esse fato.

- Quero que você saiba que sempre estarei aqui. Pra qualquer coisa, todas as vezes que precisar. Sou capaz de fazer tudo por ti, só pra te ver feliz! E se eu não tiver perto, dá um jeito de mandar algum adulto me chamar e eu chego voando, tá bom?

Ele fechou um dos olhos, franziu a testa e...

- Ôh mana, então faz aquele bolinho de banana com caramelo que eu sempre imploooro... tá na hora né, "meu"?


terça-feira, dezembro 23, 2014

Venezuela, um país sem bom destino

No lugar onde cresci na Venezuela, nada é como antes. Acabou-se a calma das noites, agora ocupadas pelo medo dos assaltos feitos por jovens em motos. Falta tudo nas prateleiras e nem sequer a gasolina escapa do racionamento. A propina move o mundo e quem deixa de pagar fica de fora do jogo. As gangues dominam as áreas de mineracao (vai sem til, pois o acento nao existe no teclado) e parte das cidades, criando máfias que cobram protecao dos comerciantes. 
As ruas de minha antiga cidade padecemo mal dos buracos na terra do petróleo. Só continua igual o carinho das pessoas com as quais cresci. Isso me reconforta enquanto visitante cada vez esporádico. A eles, no entanto, fica o cotidiano de um país destruído social, política e economicamente. E antes de que alguém diga que a culpa é daquele ou do outro governante, fica a certeza das ruas: venha quem venha governar, isso aqui ainda será a mesma Venezuela de hoje.

sexta-feira, dezembro 12, 2014

Check-list cultural da depressão



Em dezembro de 2014, as coisas estavam assim:

1.       Casa da Cultura: fechada
2.       Intendência: fechada
3.       Centro Multicultural da Orla: fechado
4.       Teatro Carlos Gomes: fechado
5.       Museu Integrado de Roraima: fechado
6.       Biblioteca municipal: fechada
7.       Biblioteca estadual: só funciona em horário comercial e não abre aos finais de semana... Quase fechada, então.
8.       Galeria do anfiteatro do parque Anauá: fechada
9.       Bibliotecas dos municípios: quase todas fechadas
1.   Prédio antigo da Secretaria Estadual de Educação: abandonado

quarta-feira, dezembro 10, 2014

Deixa a Estátua do Garimpeiro em paz




O coordenador-geral da Frente de Proteção Yanomami e Ye'kuana, da Fundação Nacional do Índio (Funai), João Catalano, criticou ontem um dos principais símbolos de Roraima, o monumento ao Garimpeiro, na Praça do Centro Cívico. Ele disse que a estátua seria uma apologia ao crime e que, por isso, vai propor a demolição do monumento.

Já havia lido algumas pessoas propondo a derrubada da Estátua do Garimpeiro por conta disto, por conta daquilo, blá, blá, blá. Mas foi a primeira vez que li alguém  com cargo público fazer a proposta.
Quer saber? Sou a favor de que permaneça aí. Se quando foi erguida tinha um significado, hoje adquiriu outro. É a lembrança do que não devemos louvar, mas também faz parte do imaginário de várias gerações. 

Eu mesmo tenho fotos feitas nele quando menino. Meu filho tem e recomendo a todo boa-vistense que leve seu filho para lá fazer a fotinha clássica com o garimpeiro ao fundo.
Quer derrubar "o que não nos representa"? 

Taca bomba no Monumento aos Pioneiros (havia índios aqui ocupando o espaço.No máximo, os brancos foram invasores), derruba a Igreja Matriz (a igreja católica, em certa fase e com certas atitudes, ajudou na opressão dos nativos), deixa cair a Casa da Cultura (opa, isso já está sendo feito) que abrigava os dirigentes vindos de fora para comandar a região; demole a Fazenda São Marcos e o que resta do Forte São Joaquim (ah, não, peraí. Isso já está acontecendo naturalmente e é bem feito, afinal, foi lá que os primeiros invasores firmaram seu controle no vale do Rio Branco).

Todas essas construções tem dualidades no que representam. Vão refletir sobre isso antes de mexer com a coitada da estátua e apoiem as ações contra a mineração ilegal. 

Beijos na bateia.

UP DATE em 11.12.14

Texto publicado no Facebook pela poeta e professora de História Elimacuxi a respeito da proposta de demolição:

Há poucos dias ministrei um minicurso sobre monumentos em Boa Vista e a violência discursiva de alguns deles sobre os indígenas. É preciso saber que a memória social é elemento essencial na composição da identidade e se forma sempre numa arena de disputas. Querer destruir um monumento central da cidade, como o Garimpeiro, é um ato político marcado pelo interesse de manipulação da memória coletiva, assim como também foi esse interesse que levou Helio Campos a erigi-lo, tantos anos atrás.

Eu escrevi parte da história de nosso estado baseando-me nos monumentos, que são importantes documentos históricos. Num estado como o nosso, onde não há arquivo público, onde tudo se apaga e a história é tratada como se fosse propriedade de uns poucos detentores de documentação, a proposta de demolição do Garimpeiro, feita por um representante dos interesses indígenas, não auxilia em nada no debate por uma sociedade mais justa, mais igualitária, mais respeitosa dos direitos (bem como da memória e da identidade) dos demais.

Ministrei o minicurso por crer que não é demolindo os monumentos que se construirá uma nova consciência, mas demonstrando sua importância enquanto documentos vivos da história de exclusão e violência contra os indígenas daqui.

Não é destruindo obra de arte e patrimônio que se abrem novos caminhos. Conhecimento e amor é que mudam o mundo.

quinta-feira, dezembro 04, 2014

Ouvindo gente reclamona na rua


 Estava eu lá ontem, com a patroa e o indiozinho, tomando meu guaraná no quiosque do Marivaldo, no meio da praça Ayrton Senna, curtindo um ventinho sem poluição e vendo a lua nascer, quando a conversa da mesa ao lado começou a me irritar.

Era uma senhora reclamando para a sua amiga do calor da cidade; de como a energia elétrica oscila e a obriga a tirar os eletrodomésticos da tomada à noite, deixando-a cansada; de como as interrupções no abastecimento de energia e água a estressam; da falta de uma bandeja de carne cortada a seu gosto nas prateleiras dos supermercados e da necessidade de toda vez ter que pedir ao açougueiro que lhe atendesse.

A foto do Centro de Boa Vista é de Orib Ziedson
A senhora ainda falava que na cidade tudo era espalhado e o mormaço do meio-dia a incomodava, sendo melhor almoçar no RU (Restaurante Universitário) para agilizar sua vida neste horário (aqui saquei que trabalhava ou na UFRR ou perto); de como isso possivelmente era a causa do mau humor dos colegas nas reuniões de colegiado (aqui eu já deduzi que fosse professora).

A professora universitária continuou suas lamentações: sente falta do mar (morava no litoral), do apartamento que era seu refúgio e no qual ainda adora ficar quando vai visitar os pais (morava em prédio). Disse que gostava muito de passear naquela região perto da UFSC (Ok, veio de Florianópolis) e que ali tinha tudo o que ela precisava. Já em seu bairro atual, é tudo difícil, não tem mercearia por perto, não tem um bom queijo para comprar se quiser receber os amigos, o que a deixa cansada, e nem sempre está funcionando a bomba de ar do posto de combustível perto de sua casa – “aquele que fica ali, na avenida que passa ao lado da universidade”.  Aqui eu deduzi que a docente tem um carro para locomover-se e mora em um dos bairros que mais tem vendinhas na cidade: Mecejana ou Jardim Floresta .

O guaraná não chegava e a Zanny estava tirando umas fotos do moleque quando veio a pérola-mor: “isso de ter que tirar as chaves das portas quando a gente as fecha, de ter que trancar porta do quarto com as coisas dentro com medo de roubo é muito ruim. Isso me deixa cansada, estressada”. Ou seja, a dona professora morava em um prédio em Floripa e nunca sentiu medo de roubo, assalto ou furto. Eu, que conheço a Ilha da Magia e leio jornal, fiquei assim, pensando em como meus amigos mentem ao me contar dos problemas da segurança lá.

Estava quase indo falar para ela aquela frase padrão para gente que vem para cá obter a renda com que paga suas contas e reclama de tudo o que não tem na cidade: o aeroporto e a BR são a serventia da casa, funcionam todos os dias e ninguém é obrigado a ficar em Roraima se conseguir emprego em outro canto ou ganhar a sua redistribuição de cargo federal. 

Por sorte nessa hora chegou a jarra de guaraná e pude dedicar meus outros sentidos a algo mais prazeroso do que ouvir, sem querer querendo, a ladainha desta pessoa que não valoriza o que Boa Vista lhe dá.

terça-feira, dezembro 02, 2014

Um vídeo: entrevista para o G1 Roraima em julho de 2014

Vídeo publicado no portal do G1 Roraima em 25 de julho de 2014, por conta da passagem do Dia do Escritor.






Originalmente veiculado em http://globotv.globo.com/rede-amazonica-rr/g1-rr/v/edgar-borges-lembra-trajetoria-como-escritor-em-roraima/3520647/.

No vídeo, fui respondendo a algumas perguntas do repórter sobre quando havia começado a gostar de ler/escrever, minhas motivações e coisas do tipo.

 Foi gravado pela manhã, o que explica as olheiras do entrevistado e cabelo meio bagunçado.