sexta-feira, abril 01, 2005

O clima e a cultura - uma teoria feita ao som de reggae

Desde os tempos áureos da civilização grega, passando por todos impérios da humanidade, teorizou-se sobre a influência da clima e da geografia no desenvolvimento das sociedades. Com esse discurso, que favorecia geralmente os seus autores, legitimaram-se a escravidão, a conquista e o colonialismo de grupos menos complexos.
Posteriores mudanças paradigmáticas nas ciências sociais apontaram para outros fatores para explicar as diferenças entre os povos. Falou-se muito em evolucionismo, (alguém se lembra aí da conversa das raças?) difusionismo cultural e um monte de outras teorias. Hoje, sabe-se que não o clima não determina a cultura. Quem diz isso são os grandes estudiosos das ciências sociais.
Mas...
Deixa estar que na quinta-feira, antes do show do Cidade Negra aqui em BV (que fica em Roraima e não em Rondônia, como o Toni Garrido gritou no começo da apresentação, para corrigir-se lá pelo final), surgiu uma nova teoria aplicável somente a este pedacinho de Brasil.
Aqui, as movimentações artísticas incomuns influenciam o clima.
Vamos às explicações:
Do nada, depois de um dia absurdamente quente, desabou uma chuvarada espantadora. Assim, de repente, como se estivéssemos na época do inverno amazônico. A sexta-feira, ainda bem, amanheceu nublada.
Fato isolado? Não.
Em janeiro, mês de vacas ainda mais magríssimas no que se refere a teatro, shows e coisas do tipo em Boa Vista, grupos de Manaus e do Rio de Janeiro vieram à cidade trazendo teatro, dança e música erudita durante dois finais de semana. Trouxeram junto chuvas e queda na temperatura habitualmente alta nesta época do ano (e no restante também, para que ninguém se engane).
Se houvesse somente o show do Cidade Negra de atração nesta semana, talvez o clima continuasse igual.
Mas nesta sexta-feira tem um show da Banda Impacto Latino no Sesc Roraima, apresentando covers de bandas e cantores latinos. No sábado e no domingo, é a vez da banda Mr. Jungle, da qual fiz parte como assessor de imprensa, apresentar-se no teatro Carlos Gomes. Ou seja, é muita coisa boa em poucos dias. Tenho medo que neve ou aconteça uma catástrofe durante este período. Qualquer coisa, minha coleção de gibis deve ser entregue ao meu priminho Lucas quando ele estiver consciente de tudo o que gastei comprando e preservando as HQs.

quarta-feira, março 30, 2005

Hábitos



Ela perguntou:
Se te encontro e te descubro, onde estará então o encanto da surpresa?

Ele calou, como ela havia previsto.

terça-feira, março 29, 2005

Meia história de uma noite completa



Foi lá pelas duas da manhã, contou-me. Havíamos bebido cada um três copos de tequila, duas margueritas, três cervejas e dançado como loucos na festa de aniversário de uma moça amiga dos dois. A nossa adrenalina estava lá em cima.

Trabalhávamos no mesmo prédio. Eu no térreo, ela no primeiro andar. Na verdade, nunca pensei que isso fosse acontecer, confessou. Mas bateu uma coragem daquelas quando vi como o seu vestido preto balançava durante as danças, que pensei: é hoje ou nunca, completou.

Pena que foi só uma vez, disse, melancólico. O nome? Não, não posso dizer. Só quero compartilhar de leve uma história, não fofocar, reclamou, indignado com minha curiosidade.

Depois daquela noite, fingimos que nada havia acontecido e continuamos trabalhando normalmente, cada um em seu setor, continuou.

Quer dizer...(expressão de dúvida) agora que penso no caso, depois de misturar tequila, margueritas e cervejas, será que aconteceu mesmo ou imaginei tudo aquilo?

segunda-feira, março 28, 2005

Citações deterministas


Disse o traficante cristão ao consumidor em tratamento:

Do pó viestes e ao pó voltarás.

quarta-feira, março 23, 2005

Da série Redatores da Fronteira, produção antiga de Zanny Adairalba para ilustrar uma semana estranha de chuvas em Boa Vista. Aos frequentadores, boa semana santa.


Texto para alguém numa tarde chuvosa



Encosto na vidraça, olho pela janela de minha sala... aqui de cima o mundo parece pequeno. O enorme vidro, molhado, me traz a sensação dos banhos de chuva da infância. Não eram prédios sofisticados, como os que vejo agora, que decoravam meus dias ... casas humildes, por trás das calçadas quebradas... ruas razoavelmente grandes e alguns paralelepípedos incompletos. As ladeiras eram nossas belas corredeiras... e brincávamos como se o mundo nos pertencesse.
Barcos corajosos, feitos de papéis, enfrentavam a fúria das águas que quase sempre os levavam para um pequeno bueiro. Quando não, eram seqüestrados por gigantes malfeitores que, mais cedo ou mais tarde, se arrependiam do ato e os devolviam aos seus destinos. A chuva continua a cair... volto a encontrar meu presente. Os prédios... tudo parece tão pequenino! Não vejo nenhuma criança a brincar. (suspiro suave) - O Rio de Janeiro não era de todo tão mau!

Obs..: Acho que a sala é aquela (enorme) do primeiro texto que te mandei.
Obs.1: Acho que hoje, não estarei no bar onde os poetas se encontram. Devo iniciar algum livro... ou ligar pra ti e ficar falando horas a fio.

segunda-feira, março 21, 2005

Relatos de um final de semana de março

Sábado foi dia de São José para os católicos. 
Foi o fim do verão também. 
E das primeiras aulas de final de semana do semestre 2005.1 da universidade. Diz a tradição que no dia de São José sempre chove. 
No meu bairro caíram somente algumas gotinhas. Mas o dia foi nublado, para compensar. 
Aliás, desde sexta-feira à tarde, deliciosas nuvens cinzas cobriam Boa Vista. Voltando à tradição, antigamente os agricultores esperavam a chuva de São José para plantar o milho que colheriam para fazer as comidas das festas juninas. Coisas de um estado que já foi mais rural e preso a superstições religiosas. 
Depois da aula de sábado, entrei numa livraria procurando um livro de teorias sociológicas. 
Checa se tem, quando chega mesmo, valeu, vou esperar a ligação que o preço pela internet é quase o mesmo, fiquei olhando o acervo. 
Daí vem a seguinte cena: A vendedora: 
- Oi, posso perguntar uma coisa? O senhor já trabalhou no Sesc alguma vez? 
Eu: - Já, faz muito tempo. 
A vendedora: - Ah, então é de lá que lhe conheço. 
Eu: - Mas faz muito tempo mesmo, coisa de anos. Como prestador de serviços em eventos. 
A vendedora: - Isso! Eu era criança e me lembro de você numa dessas mostras que o Sesc faz sobre trânsito. 
Eu, achando-me o sujeito mais velho do mundo, forçando a memória e resgatando: - Acho que era "Sinal verde para a vida". Fizemos no Objetivo e numa outra escola. 
A vendedora: - Não. Foi na minha escola. Eu estava quieta e você me olhou sorrindo e disse: "ei, estás muito séria. Sorri para mim,vai." 
Eu, lembrando de quando a verba ganha nas mostras do Sesc me ajudava a bancar as apostilhas da universidade: - Isso foi em 1997! Mas não me lembro de ter sido feita em outra escola. 
A vendedora: - É isso mesmo. Eu lembro de você. 
Eu, pensando no que fazer: - ... 
A vendedora: - Poxa, bom lhe ver.
 Eu, pensando nos eventos Brincando nas Férias e Feira de Livros, quando atendíamos mais de 300 crianças por dia: - ... 
Quis, mas não perguntei o seu nome, o que havia feito de sua vida, se dirigia bem, se estava estudando, se a livraria pagava bem. 0Só fiquei pensando em como um sorriso e uma frase haviam ficado gravados na memória daquela jovem por sete anos. 
Deu até vontade de ser gentil com todas as pessoas e dizer bom dia todos os dias, como me recomendou uma amiga certa vez. 
Ainda bem que passou logo.

quinta-feira, março 17, 2005

Discussão

Ele disse:
Quer saber? F*&@-$#!!!!

Ela respondeu:
Como é?

Ele repetiu, furioso:
F*&@-$#!!!!

Calmamente, ela retrucou:
Olha, se você vai me xingar, seja pelo menos homem de fazê-lo sem usar essas escritas de histórias em quadrinhos. Tá bem?

quarta-feira, março 16, 2005

Coisas pessoais de março de 2005

Foi a manchete de um dos jornais locais hoje:
"Ex-presidiário é executado com um tiro fatal na cabeça"
Aí, alguém me diz: se foi executado, o tiro foi fatal, né, não?
Eu, tonto de tanto trabalho e cheio de coisas para fazer, balanço a cabeça e digo: "acho que sim. Assim como é natural que alguém morra depois de apanhar muito no pelourinho e seja deixado sem assistência médica."

No dia anterior....

Segundo dia de aula na Universidade Federal. Droga de curso de sociologia que nunca termina. Comparando, pelo tempo que investi, já estava formado da outra vez.
Em três anos também já havia decorado o nome de meus colegas de sala. Agora, pouco a pouco, aprendo o nome dos atuais. Tem o.... e a...., a....., ih, acho que ainda não aprendi todos.
Mas o nome dos professores do curso já estou quase decorando.
Contudo, isso não me preocupa mais. Posso colocar a culpa no histórico familiar. Dona Maria, minha avô, contou-meu que em 1988 lecionou corte e costura durante dois meses para uma moça cujo nome nunca conseguiu decorar. Quer dizer, a coisa pode estar nos genes. Certo?
Ou pode ser culpa do calor. Afinal, dois terços do ano torramos sob um sol inclemente, bom para as plantações de soja e arroz (alta produtividade por hectare, dupla ou tripla safra, muitas toneladas exportadas e coisas do tipo), mas insuportável para os humanos. Há dias em que a pele arde.
Andar nos quentes corredores da universidade, suado, depois de um dia de trampo e de pedalar algo como dois ou três quilômetros a partir de meu local de trabalho, não ajuda muito a ter preocupação por aprender o nome dos meus companheiros de estudo.
Mas também é só aqui que o reitor da universidade te dá uma mata-leão e pergunta como você está e como foi tua viagem para o Peru.
Ou pelas bandas de vocês também se faz isso?

segunda-feira, março 14, 2005

Cronista temporariamente sem histórias reais

ou ficcionais para contar some na maior

Da redação

Os leitores do site www.edgarb.blogspot.com estavam assim, meio de banda, com a falta de novas histórias no Crônicas da Fronteira. As reclamações iam da falta de atualização à péssima vontade de Edgar em responder os comentários ou visitar outros blogs, como mandam os bons costumes do cyberuniverso.


"É um folgado. Mô segunda-feira e nada de atualizar o blog. Deve estar de ressaca. E olha que não foi na minha cantina. É isso que me deixa mais irritado", declarou Nei Costa, chefe da Cosa Nostra em Boa Vista.

Blogueira de longa data, assídua visitante do Crônicas e mineirinha comedora de queijo com breja, Luma pisa no calo e quebra tudo: "na real, o Edgar nunca me enganou. Já havia reparado que só atualizava no máximo três vezes por semana. Mesmo assim, estou preocupada com o seu sumiço."

Nossa equipe de reportagem entrou em contato com o Avery, mas ele mandou avisar que estava desfrutando da brisa que bate em sua varanda e por isso não iria comentar o sumiço. "Só sei que fui um dos principais incentivadores do rapaz. Agora, o que ele faz com o domínio não é problema meu. Mas vou mandar uma epístola para ela", afirmou o pesquisador e cybernavegante inveterado.

A equipe de reportagem gastou dinheiro pra caraca afim de tentar achar o folgado do Edgar. Ligou até para os produtores do filme Inimigo de Estado pedindo emprestado aquele sistema loucão de fiscalização espacial, mas os caras pediram muitas garantias.

"Tão loucos. Imagina que vou hipotecar meu carro pra achá-lo. Aliás, quem foi mesmo que pautou meus repórteres pra fazer isso", interrogou Luiz Valério, editor do Linha de Frente, antes de quebrar a cabeça de seu chefe de redação.

A solução foi pagar uma extra para uns policiais de folga do serviço. Em dois tempos, os eficientes funcionários estavam com a localização do cronista. ?A casa é até bonitinha, mas se fosse eu mandava pintar de outra cor?, comentou um dos investigadores.

Edgar foi encontrado deitado numa rede, na casa de um parente. Questionado pelos repórteres sobre os motivos do sumiço, olhou para os profissionais, fez cara de sono e disse que o estavam desconcentrando. "Hoje tô muito cansado. Passei o dia inteiro vendo esse caracol andar na varanda. Agora quero descansar, meu rei, que estressei e o dia foi muito quente", bocejou, antes de avisar que ia tirar um cochilo no quarto. "Lá tem ar, sabe? É mais gostoso."

Com seu estilo mordaz, Ismael diz que ficou sabendo tarde da procura. Não fosse isso, teria colocado em seus comentários ácidos de toda segunda-feira. "Já vi blogueiros fazendo coisa pior. Deve ser o clima. Mas até abril deve voltar a chover", disse o dono de O Malfazejo.

A internautas que pretendam processar Edgar pelo consumo vão de impulsos eletrônicos, Rah, sua advogada, avisa das praias do Nordeste: "não se metam com o bichinho, não. Vão caçar encrenca com outra advogada, por favor. Se largar o meu coco, vocês vão ver."

Flogueira das mais gatonas da rede e correspondente de O Diarinho, jornal mais malcriado do mundo, Carlotinha Cavalheiro diz ser da mesma gangue da Rah. "Não se metam com meu indiozinho. Quem tocar no filho único de dona Neide e tio postiço do Bê, vai levar uns muque nos chifres."

quinta-feira, março 10, 2005

As aventuras de Chicão

A cantada


Chicão - Tenho algo para te dizer. Quando você está perto, não consigo deixar de notar a tua presença. Há algo em ti que te faz diferente, que chama a atenção e te destaca no meio de qualquer grupo de pessoas. Enfim, é impossível não te perceber.
Maria - Nossa! (suspiro) E o que é, Chiquinho?
Chicão - Teu mau hálito...

quarta-feira, março 09, 2005

Sob o sol

Pulsa intermitente, no peito do homem,
Legítima fúria de animal acuado.
Sob o sol das quatro da tarde
Chora no corpo da amante.
Dúvidas passam na cabeça do homem.
É fantasia maligna ou crueldade real?
Desvario da idade, garrafas a mais,
Efeito das marés ou do orgulho do possuir?
O medo cresce
Tomando membros e tronco do homem ajoelhado
Na poça de lama tingida de vermelho.
O vento traz mensagens
De espíritos vingativos e traiçoeiros.
O homem não as entende
É só tristeza o que forma as suas lágrimas.
Agora, a justiça deve ser concluída,
Murmuram fantasmas.
Esqueça felicidades passadas,
Risos, beijos, promessas.
Esqueça tudo o que disseram sobre amor,
Seja o divino, o próprio ou o dedicado aos outros.
Esqueça a beleza do amanhecer depois de uma noite de paixão,
Sussurram no seu ouvido zombeteiros deuses.
O vazio toma conta dos pensamentos do homem
E as palavras perdem o sentido original.
Agora tudo está fora de alcance
E pode ser visto apenas de relance.
Então, com apenas um movimento,
Rápido, brusco, surpreendente,
O homem consegue sua paz.
Pulsa, sufocando o ambiente,
Permanente e estranha paz sob o sol das quatro.

(publicado originalmente há muito tempo no Zhuada)

terça-feira, março 08, 2005

No Dia Internacional da Mulher, com todas as suas motivações históricas, sócio-econômicas e culturais, com todas as pessoas escrevendo belos poemas e loas, só me resta escrever isto:

Desejo do fundo de meu coração que todas as mulheres que são casadas, namoradas, amantes ou caçadoras tenham uma boa sessão de amor neste dia.
Desejo que nenhum chefe brigue com elas;
Desejo que tenham aumento de salário;
Desejo que possam comer o quanto quiserem de seu adorado chocolate sem medo de engordar;
Desejo que o biquíni as deixe mais bonitas;
Desejo que a autoconfiança as leve até onde quiserem chegar;
Desejo que se quebre o pulso de todos os homens que batem em mulheres;
E que a coragem de denunciar agressores tome conta das mulheres agredidas.

sábado, março 05, 2005

Da série Ouvidos na rua


Declarações a respeito de confiança e amizade, por duas adolescentes pedalando em uma só bicicleta.

- Ô, sua traíra, tu trairou comigo.
- Não, não. Nada a vê essa parada.
- Trairou sim. Mô trairagem que tu fez.

(E viva a flexibilidade da linguagem oral.)

sexta-feira, março 04, 2005

Latinidade

Uma amiga disse-me certa vez que todas as canções latinas eram de dor-de-cotovelo. Exageros descontados, é certo que por conta disso, separei alguns trechos de músicas de vários estilos para ver se a teoria bate.
Da Colômbia, Juan Pablo Valencia, compositor de vallenato, gravado por Carlos Vives, teorizando sobre confiança e amizades:

Como Dios en la tierra no tiene amigos
como uno no tiene amigos anda en el aire

O guatemalteco Ricardo Arjona, apesar de ser um romântico full time, também faz outros tipos de letra, questionando o que alguns chamam de imperialismo e outros de integração:

Las barras y las estrellas se adueñan de mi bandera
y nuestra libertad no es otra cosa que una ramera
y si la deuda externa nos robó la primavera
al diablo la geografía se acabaron las fronteras.

Outra aqui, para aqueles que gostam de ajudar e ser ajudados:

no es bueno el que te ayuda
sino el que no te molesta


Abrindo passagem para o romantismo de Shakira Mebarak:

cuántas veces he intentado
enterrarte en mi memoria
y aunque diga ya no más
es otra vez la misma historia
porque este amor siempre sabeh
acerme respirar profundo
ya me trae por la izquierda
y de pelea con el mundo


E para suas pragas jogadas contra aquele que a trocou por outra:

cuando las arrugas le corten la piel
y la celulitis invada sus piernas
volverás desde tu infierno
con el rabo entre los cuernos
implorando una vez más


E agora, um canto do panamenho Rubén Blades contra a opressão:


¿Adónde van los desaparecidos?
Busca en el agua y en los matorrales.
¿Y por qué es que se desaparecen?
Porque no todos somos iguales.
¿Y cuándo vuelve el desaparecido?
Cada vez que los trae el pensamiento.
¿Cómo se le habla al desaparecido?
Con la emoción apretando por dentro.

(Essa aqui é cantada pela banda Maná no Acústico MTV)

quarta-feira, março 02, 2005

Ando mais prosa que verso.
Correndo contra o tempo e perdendo sempre.
Ando mais verão que chuva.
Ou menos face que pensamento.
Menos letra que imaginação.
Se não ando, me arrasto.
E caio, e me lambuzo.
Enlameio.
Afogo.
E ressuscito.
Para nada.
Então...
Ando, apenas.

segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Almoço zen



Na seção de poesias, a moça do balcão pergunta se o senhor vai querer comprar alguma produção. Desiludido, responde que está a fim de um pedaço de sonetos. Bota também umas gramas do haicai mais barato que houver, completa.

Ah, este mundo cão, onde a imagem não vale mais o que custava antes do reajuste governamental. Agora o preço subiu. Imagem real, tanto; real, porém manipulada, tanto a mais.

Nem o sexo é como antigamente. O bom senhor, cuja única religião foi sempre um corpo de mulher, apela agora para uma simpática boneca inflável e umas pílulas que lhe perturbam o coração, na avaliação insistente do médico da família.

Com a poesia na sacola de plástico, pensa na filha, fugitiva de amor, cruzando o estado às pressas para entocar-se nos braços de um escritor liberal e dândi, autor de crônicas imorais, verdadeiros atentados à família, aos bons costumes e à gramática. Melhor, sobra espaço na casa.

Será que não teria sido melhor comprar um pouco de concretismo e versos alexandrinos?

Talvez hoje saia para fumar um cigarro com os outros bons senhores da vizinhança. Nada muito exposto, que não convém. Depois, um cineminha, pipoca, refrigerante e gritos para que ninguém assista ao filme em paz.

Vai fazer um belo almoço. No cardápio, tem poética, metafísica e religiosidade. Para temperar, pitadas de infantil crueldade cotidiana. Pensa até em escrever à editora do cunhado e mandá-lo para o inferno. Mas hoje não. Hoje não tem sobremesa, só um drinque de muito cinismo e descaramento.

Parece que vai ser bom.

quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Às vezes

Às vezes, é melhor não fazer nada, esperando apenas que o tempo traga a sua resposta definitiva aos questionamentos. Só a idade, para exemplificar, mostra como muitos adolescentes comportam-se como idiotas enquanto pensam agir como senhores do mundo. Também te lembra que aquele cabelo estranho invejado por todos, hoje não passa de uma feia foto que se esconde na última gaveta.
Às vezes é melhor pensar mais antes de agir e reagir. É bom lembrar que o eu de hoje é diferente do eu de ontem e de anteontem. Por isso, não adianta mais falar ?se fosse em outro dia, você veria?.
Às vezes, é melhor ficar indiferente e não acreditar muito na humanidade, que alguma coisa ela fez para chegar aonde está. Esquecer que aquele a te afundar já recebeu tua ajuda para nadar. Ficar apenas lembrando do entardecer da cidade pequena, tão longe da fumaça de outras terras.
Às vezes, o bom mesmo é rir das palhaçadas do teu vizinho, do guarda que não sabe multar, da buzina estridente do carro daquele velho senhor. Sentir a vida valendo a pena mesmo quando a chuva prejudica o teu encontro com aquela pessoa especial.
Às vezes, as melhores conversas são as tidas sob a chuva, sem segundas intenções, sem cobranças de decoro ou excesso de intimidade, apenas no equilíbrio de um bom papo.
Às vezes, o melhor é terminar aquele caso de amor e deixar o coração correr livre, à procura de um novo porto, ouvir música clássica e beber vinho, permitindo-se a extravagância de colocar gelo na taça sem pensar na cara de horror dos amantes da bebida.
Às vezes, é melhor engolir o orgulho e pensar em como é bom pedir desculpas por aquela bobagem (no seu entender) que os outros consideraram grave ofensa.
Às vezes, bom mesmo é bater, é verdade, desprezando a teoria do amor ao próximo.
Todas as vezes, escrever um bilhete elogiando a ação do próximo é melhor do que telefonar para gritar pelos erros cometidos.
Às vezes, mas só às vezes, rir não é o melhor remédio e cantar não espanta os males.

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Da série Ouvidos na Rua

Florianópolis, janeiro de 2005, verão. Na loja da Americanas no centro da cidade, procuro discos em promoção. Atrás de mim:

- Ei, mulher tu tá sumida!
- Oi, meu amor! Tudo bem contigo?
- Nossa, como tás queimada, bronzeada.
- Pois é, querida. Vou todo dia à praia. Desempregada, mas em alto estilo.

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Classificados

Na seção de vendas do jornal, o anúncio de uma cama tubular branca sem nenhum arranhão, um colchão de boa espuma e travesseiros que adoçam o sono.
Na perspectiva de vender, João, que deseja livrar-se das recordações de seu último caso de amor. A cama, o colchão e os travesseiros ele adquiriu para ter conforto nas muitas horas que passariam juntos, mas não deu certo. Ele descobriu que toda a estrutura atendia não somente a ele, mas a terceiros, a quartos...
Bem, pensa João ao beber um copo de cerveja na mesa do bar, talvez não valha a pena desfazer-se de tudo. Afinal, a morena que está piscando para ele não vai querer conhecer seus beijos deitada no chão ou na rede da varanda.

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Figuras


É tão irritadiça que xinga o vento quando este desarruma seus cabelos na rua.


É tão calmo que só percebeu seu enfarte depois de três dias e uma briga com o vizinho.


É tão bonita que a maioria dos homens broxa quando vê o seu corpo nu.


Era tão rico que acendia seus charutos com notas de cem dólares.

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Histórias reais no dia do repórter


Atendimento nota 10

-ALÔ!!
- Oi, é da TV?
- É SIM!!
- Alô, sinal de fax, por favor.
- Quem?
- Sinal de fax, por favor
- Como?
- Si-nal de fax, por fa-vor?!
- Trabalha aqui não.

........................

Escambo

- Oi, tudo bem. Meu nome é fulano de tal. Quanto custam as aulas para tirar carteira de motorista?
- Tantos reais.
- Olha só. Fulaninho, jornalista do jornal TAL, quer saber se você não topa trocar umas aulas para uma jovem em troca de divulgação de teu negócio com notinhas elogiando o serviço daqui.
- Hum...pode ser. Quem é a moça?
- Ah, é uma afilhada dele. Já, já, te dou o nome. Você não vai se arrepender.

..........................

Solidariedade

- Oi, amigos! Tudo bem?
- Ahã.
- Poxa, queria pedir para vocês não filmarem a mulher do doutor. Poxa, olha para ela, tão abatidinha com a história dessa prisão. Imagina como deve estar a cabeça da coitada, sendo acusada de ser chefe de gafanhotos. São essas acusações escandalosas que envergonham nosso estado.

domingo, fevereiro 13, 2005

Segunda-feira, dia dos namorados no restante do mundo. Para celebrar a data e falar sobre relacionamentos, comentários de meus leitores, em mais uma edição da série Apropriações Indébitas:


Aprendi que romances românticos só existem nas pontas das canetas dos poetas, que o sexo do domingo começa na segunda pela manhã, que rotina é um fel na relação e uma profunda saudade na alma dos separados, que estar bem ou mal acompanhado depende do quanto vc bebeu, que estar sozinho depende do q vc tem por dentro, que amar sua vida e se valorizar é o melhor fortalecimento para qualquer relação e que comprar flores é tão importante quanto comprar feijão.
Anderson, no post Às mestras, de 3 de novembro de 2004



É cara, nesses últimos anos aprendi um monte de coisas. A principal foi descobrir que não há possibilidade de uma vivência de 17 anos com uma companheira sem que haja diálogo 60 segundos por minuto, 60 minutos por hora, 24 horas por dia, 365 dias por ano. E o mais gostoso é ver, no dia seguinte, que você conseguiu transpor mais algumas barreiras que tentavam impedir esse diálogo. Falô!!

Nei Costa, no mesmo post.


Eu acredito que o melhor amor é sempre o próximo, assim como as viagens. Agora para quem está com a mesma pessoa há vários anos, vale recordar o comentário de Albert Cammus, a saber: "o inferno é a rotina". Portanto,tomem cuidado!!!
Humberto Almeida, também no mesmo post


Mas sobre os romances que tive, apesar de fazer um tempinho que não tenho ninguém e nem pretendo algo daqui a pelo menos dois anos,sei que o que aprendi não sai.Aprendi a ser amiga e companheira, que as pessoas não são perfeitas e que nunca serão. Que ciúmes é uma grande bobagem e só quem não confia em si e no outro pode sentir tal sentimento.E conviver com as diferenças. Também veio as descobertas mais lógicas, como não é somente a mulher que é romântica e que gosta de cafuné na cabeça.Eles me ensinaram a ver a rotina como uma forma de amar. Também a ser menos exigente e menos ranzinza quando as coisas não saiam como eu queria.O melhor de tudo é que vou poder compartilhar tudo isso com meu esposo.
Adenice, na mesma leva.


Esses são os dramas dos nossos romances modernos. Não há entrega, não há vontade de se ir além, de se doar por inteiro. Hoje, isso é vergonha. Nenhuma garota fala disso com as amigas. Nem nós homens... Achamos isso uma frescura. falar de amor hoje é cafona, acreditem!!! Por isso acabamos ficando com a mesmice dos dias. Até que um dia nos damos conta de que a vida passou e não fizemos nada que realmente valesse a pena.Sábios e felizes são os que se dão conta disso a tempo

Ricardo Pcapuleto, no post Cenas Românticas, de 26 de novembro de 2004.

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Lembranças de sumpaulo


Depois de conhecer a Praça da República, com seus pintores, artesãos, loucos, velinhos conversando, capoeiristas (na verdade, esses eu vi outro dia) e espertalhões, atravessei a rua seguindo meu inesperado guia.
Caminhamos uma quadra, passamos por duas bancas de vendedores de CD?s piratas, o bolso coçando para comprar alguns, e paramos na esquina.

- E aí, tu sabes onde estás, perguntou Avery.
(pensei que ele estava zombando de mim, marinheiro de primeira viagem na maior cidade do país. Mesmo assim olhei para aquele cruzamento, com seus edifícios feios, seus carros barulhentos, seus mendigos e cineminhas pornôs).
- Não, Avery.
- Olha para cima. Lê a placa.

(na placa, os nomes que fazem daquele lugar a esquina mais famosa do país graças a uma música de Caetano)

- Quer dizer que foi por aqui que o baiano andou quando escreveu Sampa? Esperava mais da Ipiranga e São João.

E nesse momento descobri como é difícil ver poesia na cidade de São Paulo e como é fácil andar encantado pelas ruas do centro velho. Encantado com a novidade, certo, mas com as duas mãos no bolso para dificultar o roubo do relógio.

Update

Roraima é a terra das operações da Polícia Federal atrás dos figurões que passam a mão no dinheiro público usando a mesma tática: contratam seu Pedro por alguns milhares, mas ele só fica com algumas centenas. O restante é repassado para procuradores e empregadores. Os envolvidos são chamados de gafanhotos, caçados nas operações Praga do Egito e Faraó.
Agora, com a Operação Pretorium, que trata de um esquema no Tribunal Regional Eleitoral, surgiram os besouros (por conta da cor das togas dos juízes.)

Tudo isso só confirma uma teoria para detectar quando alguém pode estar envolvido em mutretagem: apareceu muito em coluna social, desconfie.

segunda-feira, fevereiro 07, 2005

Histórias da folia

Num desses carnavais da vida passados e trabalhados em Boa Vista, comentei com o Tiago que, por mais que tentasse, nunca havia conseguido um amor na folia de Momo, dessas que todos meus amigos e amigas conseguiam por poucas horas. Ele, na maior naturalidade, explicou tudo.
- O problema é que tu és venezuelano e quer ficar conversando com elas. O negócio é chegar, puxar para dançar, dizer que quer beijar e pronto. Se não quiser, parte para outra. Simples assim.

Sobre essa dificuldade, acho que a melhor explicação para a falta de sorte no carnaval foi-me dada pelo meu primo Oliver, também venezuelano, na cidade de El Callao, onde se celebra a melhor festa do sul da Venezuela, com até 20 mil turistas pulando alucinados ao ritmo das comparsas tocando calipso.
Pouco mais de 30 minutos depois de chegados na cidade, ele já estava pendurado no pescoço de uma menina que nunca havia visto na vida. Sumiu com ela, transou e voltou para a folia. Na outra noite, passaram um pelo lado do outro como se nada. E essa facilidade para conquistar todo tipo de mulher ele tinha desde entrado na adolescência.
- Acontece que eu tenho carisma e tu não. Sem carisma, não se consegue nada.

Na mesma cidade de El Callao, talvez no mesmo carnaval, estávamos os dois esperando uma carona à uma da manhã para voltarmos às nossas casas em Guasipati. De repente, Oliver, que estava deitado no capô de um carro, saiu atravessou a rua e fez sinal para eu também fosse. Cansado, fiquei parado, olhando o dono do carro abrir o porta-malas e balbuciar algumas palavras em minha direção. De repente, puxou uma pistola prateada, de cabo preto, e a apontou para mim, que estava hipnotizado pela beleza da arma, pensando que o infinito estava concentrado no negro daquele cano.
- É assim que acabo com as ratazanas, disse-me o sujeito, que só não atirou na minha cara pq seu amigo o fez abaixar o braço, tirou a arma dele e me pediu para sair dali. Só fui perceber o quanto estive perto da morte no outro dia, quando comprava uma Pepsi-Cola.
E o pior é não ia ter carisma que desse jeito.




sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Da série "Ouvidos na rua"

(Contribuição de Zanny Adairalba)

Dois pedreiros, cada um em sua bicicleta, discutem, possivelmente, dificuldades dos relacionamentos amorosos. A frase:

- Rapaz, entre mulher e comida, fico com a comida, que a gente coloca no armário e fica quieta, sem aperriar ninguém.

(E aí, é isso mesmo?)

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Colóquios

Ela disse, apaixonada:
- Tu és muito lindo, meu amor.
Ele, modesto, porém fugitivo dos bancos escolares, respondeu:
- Que nada, tu que é daltônica.


segunda-feira, janeiro 31, 2005

Reflexões de segunda

Quem zomba do perigo é valente ou idiota?
Quem foge do perigo, é covarde ou precavido?
E se, em vez de zombar ou de fugir, o fulano fingir que não é com ele, como pode ser definido?

sexta-feira, janeiro 28, 2005

A morena desce a ladeira

Lá vem a morena, descendo a ladeira. Pensativa, como todos os dias a esta hora, enquanto olha o rio no final da rua e parece relembrar praias, festas, a adolescência bem vivida.
É mais um final de tarde, final de expediente. Pena que hoje é feriado e ela não vai receber nenhum extra pelo serviço. Mas isso agora já passou. Quem sabe da próxima?
A morena já dobrou a esquina. Do outro lado, olhares a seguem. Ninguém sabe assobiar para conseguir chamar a sua atenção. De repente, de trás do balcão surge um megafone. Passa de mão em mão e quando alguém descobre como usá-lo, ela já está distante, passando em frente à casa dos padres. E apesar de o mundo estar quase perdido, ainda há respeito pelos representantes da religião.
E então, como se fosse um passe de mágica, no mesmo momento em que a morena abre o portão de sua casa e olha para trás, o sol parece concentrar sua luz somente nela, ofuscando quem a acompanhou em pensamento.
É hora de esperar o final de outra tarde na ladeira.

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Betão, o roqueiro light

Betão, metaleiro dos pesados, leitor de revistas de rock que sempre trazem alguém na capa fazendo pose de malvado, guitarrista solo de uma banda, devorador de madrugadas e inimigo das duplas sertanejas desde que tinha uns 9, 10 anos de idade, está mudado.
Não, o cabelo continua o mesmo. Também não engordou. Nenhuma nova tatuagem foi acrescentada às...(ih, o Betão é maus mas mora com os pais ainda e teve uma criação rígida. Por isso nunca quis tatuar-se).
A mudança foi mais profunda. No início, pensou-se em algo conjuntural, talvez apenas uma reação ao fim do namoro de três anos com Luciana, que o despachou depois de uma noite em que divergiram sobre ir a um show-tributo ao Megadeth ou assistir ao DVD novo do Alexandre Pires.
- Eu? Curtir essa porcaria de pagode? Parece que você não me conhece!!!
Pegou um pé na bunda por excessiva grosseria.
Depois do período da fossa e de muitas ligações para ver se reengatava o namoro, Betão desbundou. Aproveitou os shows da banda para descontar o tempo que esteve amorosamente preso. Bastava alguma garota olhá-lo por uns três minutos e ele já tratava de encostar a sua Fender Stratocaster na, segundo suas palavras, escolhida da noite.
Na faculdade, Betão aproveitou sua popularidade como roqueiro e orador da turma para dar uns apertos nas coleguinhas.
Até aí, ninguém estranhava nada. Mas o pior, quer dizer, a grande mudança no comportamento do moço ainda estava a chegar.
Um dia, Betão descobriu que no rock sempre apareciam as mesmas meninas e ele não estava mais a fim de repetir as mesmas bocas.
Pelos links do fotolog de sua banda, que se uniam a outros e outros e outros, chegou no log da Turma do Pagode. O novo paraíso.
Betão, agora fazendo questão de ser chamado de Roberto, passou a freqüentar a quarta, a quinta, a sexta e às vezes, a sexta do pagode dos bares da cidade. A bebida dentro dos limites, como bom roqueiro natureba. E entre foras e chega mais meu bem, salvavam-se todas as noites. Até aí, o seu comportamento foi considerado uma reação natural, como se fosse a descoberta tardia de um novo mundo, com letras de axé pedagógico, do tipo "encaixa, encaixa, encaixa..."
Mas o melhor ainda estava a caminho.
Uma manhã de janeiro, depois de voltar de outra cidade, onde havia tocado no final de semana, Betão chegou no seu trabalho (apenas uma parada antes de chegar ao estrelato nacional e à grana boa do show bussines, conforme diz), ligou seu computador e, como de costume, pôs um CD para rodar.
Pouco a pouco, a sala foi sendo tomada pelos acordes do disco ao vivo de Bruno e Marrone. Peraí, isso aí é Bruno e Marrone, aqueles de "dormi na praça", perguntaram os colegas, espantados. Betão, quer dizer, Roberto, apenas sorriu e até disse qual era a sua música preferida.
Depois que três dos colegas receberam alta do psiquiatra, que conversou com Roberto para que o mesmo evitasse dar esses sustos nos amigos, outros dois deram entrada no hospital. O motivo? Espanto quando ouviram, saindo das caixas de som de Betão, "Imortal", de Sandy e Júnior.
Há suspeitas que Roberto tenha sido hipnotizado, abduzido, seduzido por alguma componente das comunidades das quais faz parte no Orkut. Ou que sua nova paixão seja uma daquelas jovens demais para serem exibidas.
No mais, rola na internet um e-mail com uma fotografia do Betão, vestido com uma camiseta do Linki Park, comprando um disco do B´roz.

segunda-feira, janeiro 24, 2005

As noites de Luisa

Luisa reza para que ainda seja madrugada fora de seu quarto. Mas a luz que atravessa as brechas da porta e da janela não aponta para isso. É hora de sair da hibernação. A duras penas consegue deixar a cama. O corpo parece pesar o dobro do comum, a cabeça dói, a boca está como um deserto. Esse é o preço de uma noite de farra.
A empregada da família a olha estranhamente. Pergunta como amanheceu. Luisa não responde. Sempre achou que a mulher é muito intrometida. Come lentamente o seu café da manhã enquanto lê uma revista semanal e fica sabendo das notícias da semana passada.
Os pais estão trabalhando e a irmã mais velha deve estar na faculdade, na sua queridinha aula de medicina. Às vezes ela fica insuportável, contando como as professoras a elogiam pelo seu desempenho. Luisa não acredita muito na irmã. Sempre desconfiou de tanta aplicação e boas notas no colégio.
Dizem que frutas são o melhor alimento para quem pensa em recuperar-se de uma noitada. Ainda bem que há vários melões na geladeira. Comer enquanto ouve lounge é um dos passatempos preferidos da garota. No chat mais popular da cidade, já começa a fazer os contatos para a noite de hoje, que ninguém é tão mole que precise de repouso para farrear.
No começo da tarde, Luisa está assistindo ao seu seriado favorito quando o primo Beto chega para carregar uns móveis e levá-los para a loja de seu pai. Luisa sorri e lembra de quando eram mais jovens, lá pelos 13, 14 anos. A mãe dela quase os pegou em atos impróprios, daqueles que lembram casos de presidentes dos EUA, só que em situações invertidas. Não fosse aquela mesa coberta por uma toalha gigantesca, sob a qual ela escondeu o primo, a mãe teria estranhado a cabeça da filha tão fixa no colo do sobrinho.
Mas essas histórias são águas passadas, lembra, enquanto beija a bochecha do primo, de casamento marcado com uma amiga de infância. Ao sair, Beto pergunta se está tudo confirmado para a noite. Claro que sim, responde a menina, no mesmo local, mas com uma banda diferente, tocando blues a noite toda. Amanhã mudamos o ritmo e caímos no samba, complementa.
Já está anoitecendo quando Luisa chega da academia. Uma hora de leitura do Código Tributário que lhe garanta uma boa nota na prova do curso de direito e outra para o curso de italiano.
Pronto, Luisa está preparada para mais uma noitada na boate que a contratou como relações públicas. Conforme contaram suas amigas, não há melhor maneira de conhecer o homem com que ela vai namorar nas próximas horas. Mas isso só depois de dançar muito, que a festa promete.


sexta-feira, janeiro 21, 2005

Dá novíssima série Apropriações indébitas:

"Tóóóóíiiiinnnnnnnn."

Avery, zombando nas Crônicas da Fronteira do pobre protagonista do post Cenas românticas, de 26 de novembro de 2004 , desprezado pela sua namorada-mulher-amante mesmo depois de preliminares cheias de estilo.


quarta-feira, janeiro 19, 2005

Frases para serem ditas neste começo de ano por quem estiver apertado de grana

(pensadas depois de ler ontem O Malfazejo)


- Vai ao IPTU que te pariu!!
- Vai dar esse ISS em outro lugar, seu Imposto de Renda babaca!!
- Ô, seu filho da Serasa, te lasca!!
- Ei, vai ver se estou plantando IPVA na esquina.
- Ei! É! Tu mesmo, seu juros duma figa!!!


(Aceito contribuições para aumentar o estoque de ofensas)

terça-feira, janeiro 18, 2005

Imagem, segundo eles, é tudo

Quem acompanhou o diário de bordo sobre a viagem ao Peru agora tem a chance, se estiver a fim, claro,de ver algumas fotos nos fotologs de meus comparsas fotógrafos Tiago Orihuela e Bruno Garmatz.

segunda-feira, janeiro 17, 2005

Reflexões do mundo pop

"Até os monstros precisam de ar."

Smithers, do seriado Os Simpsons , para seu chefe, Sr. Burns, que estava assustado ao descobrir que a sua Liga do Mal havia se transformado em esqueletos empoeirados depois de anos trancafiada em uma sala ao lado de seu gabinete.
A Liga iria atacar Lisa Simpson, editora de um jornal alternativo que atacava o império jornalístico que o odiado dono da usina nuclear de Springfield havia montado para conquistar a simpatia da população da cidade.

quinta-feira, janeiro 13, 2005

Desgosto

Queria falar sobre o lançamento de uma coletânea musical feita na noite de quarta-feira pelo Sesc Roraima, integrando num único CD os grandes nomes da música local.
Depois lembraria do Nei Costa tomando quase um barril inteiro de choppe e devorando quase um quilo de queijo derretido na chapa depois do show.
Talvez, nessa vontade de mostrar para vocês a poesia dos compositores destas bandas, até colocasse letra de músicas como Roraimeira, o hino extra-oficial de Roraima; Canto das Pedras, uma declaração de amor a esta terra quente e muitas vezes injusta; ou Cidade do Campo, outra canção do tipo.
Mas o desconto no meu salário dobrou neste começo de ano, deixando-me preocupado com o futuro econômico da família e levando-me a pensar que vou ter de cortar coisas importantes na minha vida, como a Tv por assinatura ou a compra de minha futura bicicleta de 24 marchas e amortecedores em tudo o que seriam os canos de metais leves.
E ainda espero o desconto de imposto de renda aprovado pelo, como bem me avisou minha avó no dia da votação presidencial e eu não dei ouvidos, sapo barbudo do Lula.

quarta-feira, janeiro 05, 2005

O fim dos bons tempos

Então...a fantasia tem data certa para acabar.
Depois de quase um mês atravessando cinco estados brasileiros e dois países vizinhos, está na hora de voltar para casa e a rotina de trabalho-faculdade (só daqui a algumas semanas)-academia-televisão, apenas para parafrasear Renato Russo em "Eduardo e Mônica".
Na bagagem,fotos, bugigangas e muitas lembranças visuais de praias, montanhas nevadas, cidades históricas, viajantes e gente bonita. Tudo o que se precisa para encarar o cotidiano que não tem momento certo para acabar novamente.
Acredito que quem nunca viaja, pelo menos quando o faz, deve tratar de fazer algo diferente. Assim, fica a lembrança e a certeza de que o investimento em saúde mental valeu a pena.
E ainda é possível bolar frases de camisetas como esta: Estive em Floripa e não me lembrei de você. Afinal, tinha coisas mais importantes para fazer.

Que venha o dia-a-dia.

segunda-feira, janeiro 03, 2005

A natureza no dia 3 de janeiro de 2005

Devido à tsunami na Ásia, o número de mortos até esta segunda-feira (algo em torno de 150 mil pesssoas) equivale a mais da metade da população de Roraima, apenas para servir de referência.

No Rio Grande do Sul, 20 municípios estão em situação de emergência por causa da seca que atinge as regiões norte e nordeste do Estado.

Em Santa Catarina, dois tornados arrebentaram 70 casas em Cricíuma, sul do estado. Uma mulher morreu de enfarte quando viu a passagem de um deles.

A chuva castigou Floripa à noite.

Na semana passada, um dia antes de minha entrada no Brasil, um temporal havia alagado Corumbá.

Em Boa Vista, muitos cursos d'água são focos de transmissão de malária.

É a Terra cobrando o seu tributo dos homens e avisando que nem tudo pode ser usado à vontade sem que haja cobrança de algum tipo de imposto.

domingo, janeiro 02, 2005

Histórias rotineiras

Um dia ela retornou ao seu lar, depois de muitos anos viajando por terras estranhas, de costumes diversos, de línguas a se aprender e conhecer.
Mas seus amigos agora eram outros, sua vida era outra. O mundo estava mudado.
No começo, a redaptação, a alteração de costumes, as dficuldades.
Se ela já era diferente quando havia partido, neste novo tempo o era muito mais.
Às noites, frio e calor conforme as estações passavam.
Sem histórias válidas para sua situação, reconquistou o conhecido e dominou os imprevistos.
Um dia, acordou e percebeu como uma vida distinta tomava conta dela. E gostou do que viu.


terça-feira, dezembro 28, 2004

O fim da viagem

Então, depois de sobreviver a falhas mecânicas e humanas em dois países , percorrer milhares de quilômetros, há uma hora em que a falha deve ser nossa e não dos outros.
Leia mais e saberá do que se trata.
Mas antes, vamos traçar a rota da viagem à Machupicchu, que começou no dia 12 de dezembro de 2004.

Boa Vista (RR) a Manaus (AM): bus
Manaus a Tabatinga (fronteira do Brasil com a Colômbia e o Peru): avião
Tabatinga a Iquitos (Peru): barco rápido
Iquitos a Lima (capital do Peru): bus
Lima a Arequipa: bus
Arequipa, Vale do Colca, Arequipa: bus
Arequipa a Cuzco: bus
Cuzco, Vale Sagrado dos Incas, Cuzco: bus
Cuzco a Puno: bus

Até aqui, havia rodado uns 5.500 km. Após a última postagem, feita em Puno, passei o maior frio de toda a viagem. Puno gelou às 17h, com uma chuva fina que me obrigou a esconder-me no hostal bem cedo. Aproveitei para ler o livro de quadrinhos da Mafalda, ouvir rádio e deixar tudo pronto para o dia 24 de dezembro, quando começaria a viagem de volta ao Brasil.

24 de dezembro, Puno, 8h, em direção a La Paz.

Deixo para trás os ciclotáxis de Puno e embarco no bus com muitos europeus que vão ficar em Copacabana, a única escala da viagem.
Na fronteira do Peru com a Bolívia, troco dólares por bolivianos, dou entrada no país no mesmo dia que vencia minha permissão de 10 dias para estar no Peru (prazo que pedi para que sobrasse tempo e não propositadamente, vale dizer).
Avançamos pelo altiplano, tendo o lago Titicaca como companheiro ao lado esquerdo da estrada e o atravessamos de balsa num estreito.
Descubro tarde que o câmbio do lado boliviano é mais vantajoso (um dólar por oito bolivianos e não 1x7,8 como no Peru).
Em Copacabana, todos pagamos um boliviano de taxa de entrada à cidade. Sem exceção. Adiantamos os relógios em uma hora e recomeçamos a viagem às 13hh30, depois de 60 minutos de descanso.
Há crianças gritando por dinheiro e doces ao longo do caminho boliviano. Invejo um pouco a coragem e disposição de uma britânica, filha de uma filipina com um cretense, que fez o caminho do Inka, trilha que dura vários dias e reproduz o trecho que unia a capital do império inka, Cuzco, a Machupichhu.
Chegamos a La Paz às 17 horas. Procuro pelas ruas cheias de fumaça uma agência para comprar uma passagem de avião. Não quero passar mais quatro dias viajando. Tem um avião sim, para amanhã, me diz a moça da agência. Custa 350 dólares e vai para São Paulo. Outro mais barato? Sim, custa 330 dólares...
Saio para procurar a rodoviária desta poluída cidade que me parece uma Sampa sem ordem no trânsito, mas com muito menos oxigênio. As duas mochilas me cansam e o ar seco irrita minhas narinas, de onde sai catarro com sangue há dias. Na entrada da rodoviária, um boliviano treina um salto de um jeito conhecido. Sim, é capoeira e ele treina sozinho, me conta.
Passagem para Cochabamba somente no ônibus das 21 horas. Meu natal será na estrada. O meu e o de muitas outras pessoas.
É o primeiro natal que passo realmente sozinho, sem amigos ou familiares por perto. Não foi tão ruim, concluirei no outro dia, já em Cochama, como apelidam a cidade.
Saímos da rodoviária às 21 horas, como combinado, mas ficamos parados 80 minutos no subúrbio de Lima. Entram vendedores de chocolates e livros para tentar tirar o lucro da noite. Poucas vendas, apesar da boa oratória.

25 de dezembro, 4h40, Cochabamba

Os vendedores da empresa Expreso San Luiz gritam a toda voz que o próximo bus para Santa Cruz de la Sierra sai às 5h30, por apenas 50 bolivianos. Descubrirei na estrada que a passagem oscilou entre 30 e 50 pratas, dependendo do horário de compra.
O ônibus deixará a estação somente às 6h30, quebrará às 7h na saída de Cochama e o motorista e as duas crianças que o auxiliam nesta viagem de 495 km serão abordados pela polícia em seguida. Os responsáveis enviarão outro ônibus somente às 7h45 para recolher os passageiros e seguir viagem. Ao lado do motorista, um saco de folhas de coca.
Passamos pela serra da região do Chapare, onde o MAS, partido do deputado Evo Morales, liderança indígena boliviana, mantém uma luta para permitir que os agricultores possam continuar cultivando a planta da coca e manter uma tradição milenar. Como dizem no Peru, a coca é do bem, a cocaína, essa sim, é do mal.
Às 11 horas, já nos trópicos, o motorista e seu auxiliar, também um adolescente de não mais de 16 anos, aproveitam a parada de 60 minutos para o almoço e trocam todas as correias do motor.
Às 12h45, ao atravessar a ponte do rio Zapata, um dos pneus traseiros explodirá, sendo substituído por outro tão liso como um CD novo.
Na estrada, construções tomadas pela selva, cidadezinhas, plantações, fazendas, arvores frutíferas como só nos trópicos é possível. Pés de manga atiçam minha fome.
Chegamos vivos a Santa Cruz às 16h30.
Na estação de trem, filas imensas de turistas que vão passar o reveillon em Balneário Camburiu, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.
Não há passagem de trem, não há ônibus para Puerto Quijarro, as autoridades me recomendam não comprar as passagens oferecidas pelos cambistas e esperar até o próximo dia, quando talvez haja vagas nos vagões.
Decido arriscar com os cambistas se eles conseguirem me colocar dentro do trem, que sai às 17h30, ou seja, em menos de 20 minutos.
As propostas começam em 100 bolivianos. Outro me oferece uma passagem de janela por 80. Termino comprando pelo preço de balcão (52 bolivianos) e atravesso fácil pela fiscalização de documentos graças ao contato do cambista. Mas o medo sobreviverá até os fiscais do trem marcarem minha poltrona e me desejarem boa viagem.

26 de dezembro, Puerto Quijarro, 14 horas e 340 km e muitos ruídos de trem depois.

Para deixar a Bolívia, é necessário pagar 10 bolivianos. As moedas que seriam para a coleção acabam ficando na imigração.
Em Corumbá, a primeira grande marcada da viagem: esqueço de perguntar que horas são e quando percebo, meu ônibus já partiu há 30 minutos. O fuso agora está uma hora adiante do horário boliviano. Minhas atuais 14h são na verdade as 15h deste pedaço do Brasil
Ônibus, agora, só às 17h30, com previsão de chegada em Campo Grande à meia-noite.
Na estrada, uma boliviana fica assombrada quando digo que comprei passagens de trens na mão de cambistas. Segundo me conta, a venda oficial somente recomeçaria no dia 3 de setembro. Até lá, estavam todos os trens lotados.

20 minutos de 27 de dezembro, Campo Grande.

Como eu, há muitas pessoas querendo passagens para Santa Catarina.
Para ficar perto de Florianópolis, compro uma para Curitiba. Previsão de saída: 6h10 minutos. Não vale a pena dormir por cinco horas. Melhor ficar acordado e fazer a barba para tirar a barba de índio depois de 13 dias de estrada.
Deixamos Campo Grande às 8h. Por sorte (e pelos quase R$ 150 reais pagos) é um bus cama, o que garante o conforto.
Atravessamos plantações de soja e de milho, principalmente, e passamos por Londrina e outras cidades. Ao meu lado, um casal parece estar em lua-de-mel e disposto a fazer amor dentro do veículo.

30 minutos de 28 de dezembro, Curitiba, 1.000 km depois.

Curita está fria, apesar de ser verão por estas bandas.
Próximo ônibus para Floripa? À 1h30, com três vagas ainda.

Floripa, pela manhã

Chego em Florianópolis às 6 horas da matina e como bom filho único ligo para dar notícias e tranqüilizar minha mãe.
Totalmente desorientado pelos fusos horários, esqueço que em Boa Vista, cidade brasileira no hemisfério norte, ainda são 4 da matina. Melhor ligar de madrugada que ouvir que nunca dei notícias, acredito.
Agora, é descansar, pensar na volta para BV, desta vez em avião, e escrever minha tese de mestrado em transportes coletivos públicos.

quinta-feira, dezembro 23, 2004

Confusao entre Lima e La Paz

De Puno, a 3.827 msnm, margem do lago Titicaca

Depois de um dia inteiro em Machupicchu, conhecendo a cidade perdida e se metendo a conquistador de Waynapicchu, templo que fica no morro que sempre se ve nas clássicas fotos de MP (duas horas para subir e descer em ritmo de branco, 15 minutos em ritmo inka. E eu fiz em 1h45 em ritmo de índio que já subiu o Monte Roraima mas nao teve tanta acelarada de batimentos cardíacos), pegar o trem de volta para Cusco e perceber, depois de falar com alguns brazucas e peruanos, que as agencias deram o golpe em mais de 100 (bota mais) turistas enviando-nos para Ollantoytambo para pegar o trem (lucro médio de 50 dólares em cada um), peguei o bus para Puno.
Chegando aqui, cansado e com sono, troquei Lima por La Paz e comprei uma passagem de volta para Arequipa sem entender como a rota mais curta e barata poderia ser essa. Mas tudo bem...
Gracas ao guia turístico das ragazzas Paola e Fede, no qual checamos duas vezes a rota, decidi voltar para trocar a passagem por outra para Copacabana. Na rodoviária percebi como estava prestes a voltar ao ponto inicial da partida. Discute aqui, discute lá, deixa uns soles na mao do vendedor, compra outra passagem para La Paz e fica na boa. La Paz por Lima...acho que foi a letra L...

Nei, vc quer saber do Lago Titicaca? É água sem fim, com um horizonte cortado pelo totora, palha com a qual os Uros fazem as suas casas. A água é fria (9 graus em média)e é fascinante andar sobre as ilhas flutuantes.

MP? É de se parar e pensar o que levou os inkas a conquistarem uma montanha daquele tamanho, cujo acesso em microonibus demora 25 minutos por uma estrada de 8km ou uma hora pela trilha que nasce no povoado no pé da montanha, Águas Calientes.

Tocar nas pedras talhadas e lisas, perceber que eles moldaram uma montanha ao seu gosto e fizeram construcoes que sobrevivem até hoje, resistindo inclusive aos terremotos em Cusco, é a mágia do lugar. Entrar nos quartos,olhar o vale em frente e sentir o vento frio dos Andes no rosto, isso é fantástico.

Lá, encontrei dois catarinenses de Bombinhas (acho que o Orib já esteve lá mergulhando) que estao há um bom tempo excursionando pela América do Sul e já haviam estada em Boa Vista. Fotos e textos em wwww.expedicaotoriba.com.br, com o Raul e a Valquíria.

Agora, rumo a La Paz, na Bolívia.

terça-feira, dezembro 21, 2004

De novo, um imprevisto

Aí vc compra a viagem para MP numa agência, confiado que tudo vai rolar no esquema. Acorda 5 horas da madrugada fria de Cusco para estar na frente do hostal às 5h30. E o que acontece? Nada...
8h50, na agência, pronto para reclamar na Policia Turística do Perú caso nao fazam nada, fica a viagem adiada para o outro dia. Ainda bem que a hospedagem estava paga. O que resta é aproveitar para fazer um tour pelo Vale Sagrado dos Inkas e visitar seus templos , olhar seus relógios solares, a cruz inka, suas construcoes no pés de montanhas e se perguntar como os caras conseguiram fazer tudo isso há mais de 500 anos e como os espanhóis destruiram tudo para erguer sobre as bases das construcoes seus templos e casas.
O bom do dia é que o passeio foi compartido com as italianas Paola e Federica e com os chilenos Lisé e Osmar, conhecidos do city tour do dia anterior.
Na volta, a confirmacao da ida a MP e a saída para Puno, às margens do Titicaca na noite de quarta.
Enquanto isso, percebe-se que ser bilíngüe por aqui é o mínimo que se poder ser. Os turistas falam, em sua maioria, três linguas (a mae, o inglês e o espanhol, mas há quem fale até cinco).
Os guias, bom, deles nem se fala. Até os indígenas ambulantes falam ou arranham em três idiomas. A deles, o espanhol e o inglês.
E os brancos que os conquistaram é que eram espertos.


segunda-feira, dezembro 20, 2004

Cuzco, a um passo (e 95 dólares) de Machu-Picchu


A viagem ao Vale do Colca, onde esta o canyon mais profundo do mundo foi legal. Mas ver 1.200 metros de pedras, peruanas vendendo artesanado, lhamas, alpacas, conjuntos bolivianos cantando musica em idiomas indígenas, fazer caminhada à margem de um desfiladeiro, ver ao longe vulcoes e passar frio enche.
Cusco é pura história. É andar no meio da cultura inka (aqui se escreve assim) e espanhola.
Também é sentir que a indústria do turismo peruana nao perdoa. Te cobram tarifas para embarcar nos avioes e nos onibus. E nem pense em ter pelo menos o acesso ao banheiro garantido. Pague por isso ou fique na vontade.
Por isso, todo mundo entra logo no esquema de mochileiro. A pechincha é uma obrigacao.
Somente assim para encontrar um espanhol há 45 dias rodando no Perú ou uma francesinha que vai para 3 meses e meio rodando pelo Chile, Bolivia e Perú. Tudo na base do que for mais barato.
Pegar aviao é doideira aqui. Os precos quintuplicam e vc ainda tem que pagar uma taxa para a Infraero local. Por isso, os gringos viajam quase sempre de bus.
Bem, nesta terca MP e depois Puno, para ver as ilhas artificiais do Lago Titicaca.
Depois, bom, depois...Acho que La Paz. Um dia chego em Corumbá. Se a grana der.

Update

Entao...a galera cobra em dólares, mas depois que se passeia por construcoes inkas e se escuta a história de como fizeram seus templos, se toca em pedras talhadas há séculos e se olham altares onde eram feitos sacrifícios humanos, a inversao em cultura geral vale a pena.
Há também o prazer de encontrar os viajantes que se inspiraram em filmes como Diários da Motocicleta, como as italianas Paula e Frederica, que vao rodar pedacos do Perú e Bolívia só porque assistiram o filme.
E por hoje, depois de passear nas ruinas de Saqsaywama,, Q'enqo, Puka Pukara e Tambomachay, é bom lembrar de uma passagem de Diários: Tudo foi feito pelos inkas e destruído pelos espanhois, os incapazes.


sexta-feira, dezembro 17, 2004

Passando perrengue no Perú

De Arequipa, a 1003 km de Lima

Bem, somando Boa Vista - Manaus - Tabatinga - Iquitos - Lima - Arequipa, acho que já rodei uns 4 mil km em uma semana, via terra, ar e água.

Até agora já passei perrengue no Rio Amazonas, com o barco de motor ferrado, e no trecho para Arequipa, na beira do oceano Pacífico, quando o bus que faria a viagem em 14 horas (saída as 17h de Lima) teve de parar na rodovia Panamericana Sur por conta de uns desmoranamentos de pedras. Isso foi as 4 horas desta sexta. Saímos de lá as 9h (ainda nao encontrei a crase no teclado) e a 15 minutos de Arequipa, o carro pifou. Daí, espera para fazer baldeacao, chega aqui, o dia já todo perdido, corre para ver o que pode ser visto tao tarde, topa com centenas de gringos, a temperatura baixando para os 21 graus desta época, compra o boleto para fazer uma viagem ao Vale do Colca, com um dos canions mais profundos do planeta (3.400 metros no ponto máximo) e esperar para manha um chá de coca (aqui tem uns blusas legais que dizem algo como a "a coca é legal, ruim é a cocaina. Mas os caras nao querem vender duas por 15 soles, se nao levava para um amigo mal humorado daí).
Lima foi uma droga. Para os visitantes futuros: fiquem em Miraflores, a parte mais central e turística da cidade. Daí é possível chegar ao centro velho e pirar,entre outras coisas,com uma igreja franciscana e suas catacumbas cheias de ossos. É fantástico...Nada de ficar fora do Centro Velho ou de Miraflores, repito. Se nao, vao se dar mal na hora do deslocamento.
Em Miraflores, por acaso, há um sítio arqueológico chamado Museu de Pucllana. A entrada custa cinco soles. Fica bem no meio de um bairro residencial. Agora é que os arqueólogos estao fazendo as escavacoes. É gigantesco (tem seis hectares e uma altura, calculo, de 15 metros. De noite parece um depósito de areia. Mas antes tinha 20 hectares. É de uma cultura de 700, 800 antes de Cristo, os Lima).
Agora vou passar dois dias no Vale do Colca e depois, finalmente, encarar o que vim fazer aqui: Cusco e Machu-Picchu.
Ah, curiosidades. A empresa de onibus na qual vim (Cruz del Sur, mas tem um bocado fazendo essa rota) dá janta com refri (lembra a comida de aviao) promove bingos sorteando a passagem de volta para Lima (quase...só faltaram dois números) e vende água e salgadinhos. Zero água.
Por favor, dá para mandar mais energia positiva? Ou tá pouca a enviada ou os Andes estao bloqueando a transferencia.
Bjs a todos os que estao comentando. Fico feliz em te-los perto nem que seja virtualmente. Afinal, estar ligado virtualmente perto de casa é uma coisa. No teto das Américas é outra.


quarta-feira, dezembro 15, 2004

Uma odisséia na água

(De Iquitos)

Resumindo: nunca fiquei tanto tempo perto de água. A viagem que duraria somente 9, 10 horas no máximo, transformou-se numa jornada de 27 horas, com direito a paradas em aldeias indígenas e vilarejos onde a energia elétrica é desligada quando batem as 21h30, batidas em troncos na noite no rio Amazonas, medo de naufragar na madrugada, barqueiros desorientados na nevoa do "cruzamento" dos rios Napo e Amazonas, canoas carregadas de pessoas e frutos que ultrapassam um barco considerado muuuuittto rápppiiiiiido como se fossem iates a jato.
Em Iquitos tem uns táxis que parecem aqueles "paxas" (acho que é assim que se escreve) indianos, só que puxados por motos. A parte central até que é bonita. Só o porto que é feio de se ver.
E o pior é que quando mais se navegava,mais parecia que tinha Amazonas para percorrer.
Bom agora é ir para Lima e depois para Arequipa e depois para Cusco, finalmente.

O bom deste tipo de atraso é que acabamos conhecendo pessoas que estao na estrada como a gente, seja a negócios, turismo ou trabalho. O barco, que pela averia foi trocado por uma lancha furreca, parecia um festival de sotaques da Amazonia.

Também se aproveita para refletir um pouco sobre a vida. Mas só um pouco, que cansa.

Bom, agora, da selva para os andes.

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Um Pemón na estrada

De Tabatinga, uma outra fronteira


Se fosse de barco, demoraria 3 dias para chegar aqui. Mas nada que um investimento numa passagem de avião não resolva para ser possível cobrir 1.105 km em linha reta em duas horas e meia. Por água, a distância sobe para 1.607, segundo o portal da cidade. Somando com o trecho de ônibus de Boa Vista a Manaus (mais ou menos 800 km), já fiz quase dois mil km. Ou seja, tô rodado.
Tabatinga é abafada, como todas as cidades amazônicas. Tem moto-táxis que rodam sem capacete, tem contrabando de um monte de produtos que vão para Letícia, a cidade a lado, como importação (ou seja, mais baratos) e voltam sem pagar impostos. O comércio de confecções é agitado. O porto também. Muitos índios pobres na beira do mar vendem farinha que trazem em "baldes" feitos de palmeiras. É outro mundo, o que me lembra que se metade do que o poder público alega investir fosse usado para melhorar a qualidade de vida das pessoas chegasse até elas, o mundo estaria melhor.
A passagem para Iquitos, a próxima parada, custa 50 dólares por barco, numa viagem que demora 12 horas. Tem uma empresa de aviação que faz a rota duas vezes por semana, mas não descobri o preço.
O barco sai às 5 da manhã. Tomara que não vire. Afinal, ainda não sei nadar e ainda quero chegar em Floripa para comer peixe na beira do mar...
Esta é a terceira cidade fronteiriça que conheço. Em todas, por coincidência, há uma grande concentração de indígenas. Mas aqui é difícil saber quem é colombiano, peruano ou brasileiro. Sei que todos são índios pelos traços, principalmento o nariz adunco. Isso me lembra como o conceito de nação e país é abstrato, mais ocidental de que outra coisa.
Me sinto no entroncamento do fim do mundo, mas próximo ao teto do mundo.

(Aos amigos que vão me ler e tem seus blogs e fotologs, vai ser complicado retribuir a gentileza. Mas espero que continuem mandando força positiva.)


sexta-feira, dezembro 10, 2004

Alturas de Macchu Picchu,

do livro Canto Geral, de Pablo Neruda

Então na escada da terra subi
entre o emaranhado atroz das selvas perdidas
até a ti Macchu Picchu.
Alta cidade de pedras escalares,
por fim morada do que o terrestre
não escondeu nas adormecidas vestimentas.
Em ti, como duas linhas paralelas,
o berço do relâmpago e do homem
embalavam-se de espinhos.

Mãe de pedra, espuma de condores.
Alto arrecife da aurora humana.
Pá perdida na primeira areia.

.........................

Tomara que consiga pensar em alguma coisa parecida quando topar com as pedras escalares.

A cada viagem, sempre o receio:se alguma coisa ruim deve me acontecer, que seja depois e não antes ou durante a caminhada.

A cada viagem, o desconforto de deixar o conforto e a excitação de encarar o desconhecido.

A cada viagem, a tentativa de saber como retornarei, a fim de tentar validar a lei do Saramago: todo aquele que começa alguma coisa não é o que a começou.

A cada viagem, pensar na próxima viagem.

segunda-feira, dezembro 06, 2004

Da série Redatores da Fronteira, Bruno Garmatz, tomador de chimarrão, escritor à procura de uma editora e zen foto-jornalista chefão do fotolog Veja Roraima.



Sumário

O que eu não gostava em você
Não eram os teus ataques histéricos
Nem teus porres homéricos
Nem teu jeito maluquinho de ser.

Também não eram tuas roupas esquisitas
E os cabelos vermelhos
E toda hora dando conselhos
Pelo telefone em conversas infinitas.

Nem tampouco os teus peneuzinhos
E o vício de mascar chicletes
Ou aqueles enormes joanetes
Que enfeitam teus pezinhos.

Também não era teu umbigo saltado
E nem a tua celulite
E essa tal sinusite
Que não saía do teu lado.

E nem as rugas do canto do olho
Que chamam de pés-de-galinha
E aquela tua comidinha
Sempre tão cheia de molho.

O que eu não gostava em você
Não era a tua mania de tirar sarro
E sim o maldito cigarro
Que você não conseguia esquecer.

quinta-feira, dezembro 02, 2004

Falando de uma viagem

Ao entrar na Venezuela, no posto de fiscalização, a revista do Guardia Nacional:

Desça de carro
Documentos
O que tem no bolso?
O que tem na pochete?
O que tem na carteira?
Que tipo de moeda você carrega?
De onde você vem, para onde vai?
Você é deste, daquele ou do outro estado? Parece.
O que você faz na vida e no Brasil?
Ok. Pode guardar. Fulano, vai checar o senhor? Sim, por ali, por favor.

Na tenda militar, quente e abafada:
Documentos
O que tem na pochete?De onde você, para onde vai?
O que você faz na vida e no Brasil?
Tem crachá? Posso ver?
Hum, jornalista é periodista? Tudo bem, pode ir. Nós levamos isso, quer dizer, eu levo em conta quando a pessoa tem uma profissão definida. Você sabe que tudo isto é procedimento rotineiro.

Na saída, depois que pego a bagagem, pela segunda vez neste ano ouço a frase, dita em tom de voz leve e esclarecedor aos outros Guardias: el chamo es periodista.

E aí eu lembro que a fronteira é uma rota de tráfico internacional de cocaína e me pergunto o que os Guardias fariam se fosse alguém sem um crachá, diploma ou profissão para ser referenciado.


segunda-feira, novembro 29, 2004

Manhã de segunda-feira. Calor em Boa Vista. Ar seco. Suor.
O calor me incomoda, me deixa enjoado. Mais de uma década depois, ainda não me acostumei com ele.
Na delegacia, o mau cheiro me deixa mal. Quase uma hora para registrar queixa.
O ambiente das delegacias e dos hospitais me deprime. Acho que não conseguiria trabalhar neles.
Na recepção e na sala onde se fazem os BOs, apenas um ventilador. Paredes sujas, descascando. Quero vomitar.
O policial é bom no atendimento, encaminha bem as coisas. O escrivão é educado, porém realista: vá comprar outra bike, meu rapaz. No tempo que estou aqui, nunca vi ninguém recuperar a sua.
Eu também, penso. É a quinta que me furtam desde que vim morar aqui. A mãe de uma amiga me orientava sempre a deixar preenchido o formulário de queixa. Agilizaria minha vida.
Já me levaram gravadores, tênis, sandálias, camisetas, bermudas, mochilas, livros...apenas para falar de objetos. Nunca os recuperei. Apenas para mencionar objetos.
Acho que não vou mais trilhar neste ano. Mais um da turma que entra de licença forçada.
Na rua, olho todos os ciclistas com mais atenção.
Perder é bom por isso. Os detalhes do mundo passam a ter mais importância.
A perda também quebra rotinas. Mas tudo o que não precisava nestas duas semanas era isso, assim como a necessidade de ir à Venezuela repentinamente.
O que desejo para o ladrão? Nada de mais. Não sou vingativo. Apenas que seja atropelado. Ou que um cachorro o morda na jugular na próxima vez que entrar no terreno alheio.
Acho que o calor me deixou irritado...


sexta-feira, novembro 26, 2004

Cenas românticas


Olhe para mim. Sinta minha fome de você.
Chegue mais.
Sorria, que eu te olho fascinado.
Cheiro teu rosto inteiro.
Se quiser rir, faça isso.
Ainda te cheiro, desta vez no cabelo. Minha mão direita na tua nuca.
Volto de teu cabelo, tocando teu rosto com meu nariz e minha boca.
As duas mãos na tua cintura.
Roço meus lábios nos teus e busco sentir tua respiração, teu hálito.
Os lábios se tocam, se molham.
O beijo, de fato.
As mãos, na nuca. As mãos no corpo.
O beijo lembra o primeiro do nosso namoro.

O restante é o de sempre. Você me lembra que hoje é quarta, diz que está com dor de cabeça e que prefere ler um livro. Eu vou pegar uma cerva enquanto te xingo mentalmente e depois ligo a TV para ver uma partida de futebol.

quarta-feira, novembro 24, 2004

Bomba mata promotor que investigava adversários de Chávez

"O promotor disse à agência de notícias Reuters há menos de duas semanas que esperava completar em breve o indicamento formal de todos os acusados."

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Na Venezuela, quem se mete a besta com as elites que dominaram o país durante 43 anos morre.

Foi esse o destino do promotor de justiça Danilo Anderson, que investigava as pessoas envolvidas no, por enquanto, último golpe de estado do país vizinho, em 2002.

O governo Hugo Chávez Frias, incluído no eixo do mal pelo reeleito Bush Júnior, já está adiantado na caça dos assassinos que explodiram uma bomba no carro de Danilo e movimenta sua bancada parlamentar para aprovar uma lei anti-terrorista que limite a ação dos paramilitares supostamente treinados pela CIA para desestabilizar a V República.

Alguns desses homens já foram presos neste ano a poucos quilômetros da residência oficial do presidente. E de vez em quando aparece um líder oposicionista dizendo que a solução para os problemas da Venezuela está numa arma de precisão com mira telescópica apontada para a cabeça de Chávez.

Chávez, falastrão e altaneiro quando se trata de defender o que considera ser o melhor para os venezuelanos, não poupa críticas à política externa dos Estados Unidos da América (sic) de levar a democracia e a paz a todos os rincões do planeta, citando sempre o Iraque, Afeganistão e Colômbia, entre outros países.

O que será do futuro político do país vizinho é uma incógnita.

De certo, só que na Venezuela se leva muito a sério o refrão "quien a hierro mata, a hierro muere", amaciado em português para "quem com ferro fere, com ferro será ferido."

segunda-feira, novembro 22, 2004

Da série "Redatores da Fronteira", um texto de Ricardo "Pcapuleto" Amaral, estudante de jornalismo da UFRR, jogador de futsal e integrante do Orkut, escrito num dia não muito distante de sua adolescência.


Depois de tudo, sempre viverei no limite
No limite extremo
Que a determinação me permite.
Com os olhos talvez perdidos
No desejo de querer-te,
Envoltos em lágrimas
Que escorrem pelo chão,
Formando um oceano infinito,
Mar de paixão...
Talvez nem mesmo me encontre
Neste labirinto,
Mistura de emoções que trituram meu coração,
E me fazem morrer por dentro...
Mesmo assim,
Talvez sem estarmos presentes
A esses encontros que duram para sempre...
Nossas almas persistam em viver
Nos desencontros casuais de nossos destinos...
Talvez nossos pensamentos se busquem mutuamente
Para juntos recordarem todos os momentos.
Lembranças guardadas junto de suas existências são como o tempo,
Nunca terminam e não morrem jamais.

sexta-feira, novembro 19, 2004

Euzébio, o contador

(De G. Guarabyra, publicitário, jornalista e amante de futebol e da boa cozinha)


Em seu quarto alugado, Euzébio era o retrato da solidão. Sozinho desde que a mulher confessou, em lágrimas, que não agüentava mais aquilo, passou a viver com a metade do coração. Procurava um emprego, desesperadamente, ainda alimentando a esperança de que um dinheirinho - pouco, mas certo - seria o suficiente para arrumar as camisas no guarda-roupa e a vida nos trilhos. Calças e camisas amarrotadas se espalhavam sobre a cama sempre desarrumada, a pia do banheiro repleta de cuecas mergulhadas na água.

Acordara cedo, disposto a arriscar na passagem de ônibus os últimos trocados emprestados por um amigo. Não é possível que nessa cidade ninguém esteja precisando de um contador habilidoso e experiente com eu, injetava confiança em si mesmo. Tentava desamarrotar a camisa usando as mãos como se fossem um ferro de engomar.

A barriga não cabia mais dentro da calça. Em todas as peças romperam os botões. Havia encontrado um grande alfinete que servira para prender as fraldas da pequena Camila, quando ele, a filha e a mulher, Marilza, ainda viviam juntos. As duas partes da calça que precisavam ficar presas corriam para os lados, mas acabavam contidas pelo grande alfinete, uma peça formada por duas hastes de metal, uma delas presa por uma presilha na ponta.

Na parte mais abaixo o zíper permanecia aberto até o meio da braguilha, mas as bordas da camisa encobriam o alfinete, um detalhe, para ele, fundamental. A exibição daquele arranjo seria o mesmo que anunciar publicamente o estado de humilhação em que vivia. Por isso mesmo, habituara-se a caminhar pelas ruas sempre com uma das mãos segurando a camisa na altura do alfinete, de modo a impedir que um vento levantasse a roupa e expusesse aos passantes sua penúria.

Ônibus cheio, como sempre, ficou em pé bem no meio, pronto para avançar quando se aproximasse o ponto onde deveria descer. Uma mão segurando o suporte colado ao teto, a outra impedindo que a camisa levantasse muito.

- É um assalto!
O grito veio do fundo do ônibus. A freada brusca jogou algumas pessoas sobre Euzébio, ele segurou firme o corrimão do teto e, mais firme ainda, manteve a camisa no lugar. Duas portas de emergência foram abertas num piscar de olhos, passageiros caíam no asfalto e corriam em desespero, dois policiais militares surgiram não se sabe de onde, armas em punho, um entrando pela porta da frente, outro pela porta de trás.

No ônibus praticamente vazio os policiais avistaram Euzébio com uma cara suspeita. No empurra-empurra, ele percebeu que o alfinete se abrira. Rápido, meteu a mão por baixo da camisa para impedir que a calça fosse ao chão.
- Ele tá armado!
O cabo Oliveira, campeão de tiro da 8ª Companhia, não teve dificuldade para acertar um disparo bem no meio do peito gordo do contador.
- O elemento ia atirar, Oliveira!
- Se eu não sou ligeiro, hein, sargento!

quinta-feira, novembro 18, 2004

A casa dos barões continua caindo


Manhã agitada na sede da superintendência da Polícia Federal de Roraima. Por conta das investigações do Caso dos Gafanhotos, vários figurões de Boa Vista foram presos, entre eles um ex-secretário de Fazenda, o ex-responsável pelo Tesouro Estadual e os sócios da empresa que fazia os pagamentos dos servidores públicos.

Do lado de fora da superintendência, sob o sol, os representantes da imprensa, ávidos e de óculos escuros. Estavam acompanhados de algumas pessoas que gritavam 'ladrão", "bem feito" e coisas do tipo a cada sujeito que chegava na parte de trás dos camburões da Federal.

Das três rádios FMs da cidade (o sinal das AMs estava péssimo), apenas uma deu cobertura à movimentação. Em certo momento, uma delas falava sobre melancias e outra mandava abraços aos ouvintes.

Na emissora que ficou de plantão, comentários exaltados sobre a ladroagem, sobre a corrupção, sobre justiça sendo feita. Um radialista se revoltou por ter entrado no prédio da Federal algemado, depois que foi pego contrabandeando gasolina da Venezuela, mas não viu os figurões tendo o mesmo tratamento. Falaram em justiça desigual.

Outras pessoas falaram em fortalecimento da democracia, moral e ética.

Como de costume, também se falou (e vai ser escrito, com certeza) em vergonha para o Estado, exposição desnecessária, constrangimento.

Parece que todos querem ver presas as pessoas acusadas de desviar cerca de 230 milhões de reais dos cofres públicos, mas de preferência sem alarde, afinal, todos se conhecem em Boa Vista, todos freqüentam as mesmas festas e aparecem nas mesmas colunas sociais, têm a mesma pinta de boa gente, usam quase sempre as mesmas marcas de carros e motos importadas.

É sempre a mesma reação. Os servidores-fantasmas, ou gafanhotos, por serem os devoradores da folha de pagamento, não são uma novidade. Nas eleições de 1998, o extinto jornal O Diário, ligado intimamente ao governador Ottomar Pinto, publicou uma listagem dos deputados e secretários estaduais e a cota de gafanhotos de cada um. No outro dia, na mídia escrita, apenas as defesas do grupo do então governador Neudo Campos. Ninguém questionou muito, talvez para não perder as cotas de publicidade, talvez por acreditar que eram mentiras criadas pela imaginação de um grupo de descontentes.

E assim se faz a história em Roraima.

terça-feira, novembro 16, 2004


Depois de uma semana de surrealismo político, O Crônicas da Fronteira tem o prazer de apresentar mais uma edição de sua série de maior sucesso: Escritos para mulheres especiais.


Acuerdo

(para ler ouvindo "Il postino" ou "Beatrice", da trilha sonora d?O Carteiro e o Poeta)

Hagamos un trato:
Si quieres me voy.
Si no, me pongo donde mandes,
Me vuelvo un polo sur
Uma aldea a orillas del Amazonas.

Hagamos un trato:
Yo me quedo tranquilo
Si me dejas dormir en paz
Acompañado solamente de la luna.
Acéptalo, por favor,
Mis lágrimas te lo imploran
Lo necesitam como cielo azul al sol
Como isla al oceano.

Déjame vivir lejos
O recibe mis poemas
Y leelos por las noches.
Cuando amanezca, miénteme
Si es necesario y dime que
Se parecen a los de Neruda.

Hagamos un trato:
Dime que trato quieres
Para arreglar esta situación
Y echar el barco al mar
Para ver en que lugar podemos navegar.

Hagamos la paz o la guerra
Hagamos distancia o amor.
Pero tiene que ser ahora.
Lo siento, pero soy así.
Como agua sin sed
Com letra sin papel.
Soy así, sin ti.

Por eso te lo pido
Por la vida, por Dios en el cielo,
Antes que sea tarde
Y todo sea imposible,
Hagamos un trato.

sexta-feira, novembro 12, 2004

De novo, política.

Não deu pra aguentar...Leia na tarde de sexta o que sairá no sábado n'O Globo. Depois, lá embaixo, clique no link que te leva para um artigo no site do Marlen sobre a situação da política roraimense. Até semana que vem.
(Sobre o post anterior, mudou tudo na Assessoria de Comunicação, com o descarte do nome anunciado em plena cerimônia de posse. É o jeito Ottomar de ser.)


Ottomar consegue recuperar R$ 12 milhões
desviados de convênios federais em Roraima

Humberto Silva
Especial para O GLOBO



BOA VISTA (RR). O novo governador de Roraima, Ottomar de Sousa Pinto (PTB), empossado na quarta-feira após decisão do Tribunal Superior Eleitoral que confirmou a cassação do mandato de Flamarion Portela (licenciado do PT) anunciou ontem que encontrou nos cofres do estado pouco mais de R$ 1 milhão, porém, numa operação entre a Secretaria da Fazenda e a rede bancária, conseguiu recuperar mais R$ 12 milhões, que segundo ele, ?através de manobra conseguiram desviar os recursos de convênio federal para fazer pagamentos que não correspondiam ao convênio?.

Ottomar disse que com a recuperação dos aproximadamente R$ 12 milhões, de convênios federais, recebeu o governo com um caixa de R$ 14 milhões. ?Tivemos que agir rápido para que não fossem descontadas as ordens bancárias?, afirmou o governador negando-se a informar em nome quem eram os pagamentos, para não atrapalhar a auditoria que determinou em todas as secretarias.

Dívidas

Além da tentativa de desvio de R$ 12 milhões, de convênios federais, Ottomar Pinto herda diversos acordos de renegociação de dívidas junto ao INSS, Eletronorte e ainda o empréstimo concedido pela CAF ? Corporação Andina de Fomento ? no valor de US$ 23 milhões, ainda na administração do ex-governador Neudo Campos, cujos recursos deveriam ser destinados a interiorização da energia de Guri.

A obra de interiorização não foi realizada na administração de Neudo Campos nem na de Flamarion Portela e a partir de 2004, o governo de Roraima tem que pagar duas parcelas por ano no valor de R$ 7 milhões cada, sendo uma em junho e outra em dezembro.
Junto ao INSS, antes de sair do governo, Flamarion Portela fez uma renegociação da dívida reconhecida no valor de R$ 232 milhões. Hoje o Estado paga R$ 600 mil por mês.

Além do empréstimo com a CAF e a renegociação com o INSS, Roraima tem outro acordo, junto com a Eletronorte e tem que desembolsar mensalmente R$ 1 milhão. Desde que o Estado foi implantado em 1991, nunca se pagou a energia consumida pelos prédios públicos.

Lula

Durante entrevista ao jornal O Globo Ottomar Pinto disse que vai ter uma relação respeitosa com o Palácio do Planalto, alertando que ?não vamos ser alinhados com tudo que o presidente Lula queira. Teremos relação respeitosa?, disse ele acrescentando após ter o levantamento das dívidas do estado com a União, vai buscar o Poder Central para discutir a situação.

Gafanhotos

Após a posse de Ottomar Pinto no governo de Roraima, o Tribunal Regional Eleitoral anunciou para o dia 23 de novembro o julgamento de uma Investigação Judicial Eleitoral impetrada por Pinto contra o ex-governador Flamarion Portela e mais cinco deputado reeleitos em 2002 ? Chico Guerra (atual vice-presidente da Assembléia), Mecias de Jesus (presidente da Assembléia), Berinho Bantin, Urzeni Rocha e Sérgio Ferreira, além 11 ex-deputados e um vereador de Boa Vista.

O processo é pautado no Escândalo dos Gafanhotos, que em novembro de 2003 levou mais de 57 pessoas para a prisão, inclusive o ex-governador Neudo Campos.
Na pauta da sessão do TRE-RR do dia 23 de novembro serão julgadas três Investigações Judiciais Eleitorais movidas por Ottomar Pinto contra Flamarion Portela, deputados e ex-deputados. O processo já está com relatório final elaborado pelo Corregedor-Eleitoral, desembargador José Pedro Fernandes que não se encontra em Boa Vista.

Na Investigação, os advogados de Ottomar Pinto acusam o ex-governador e parlamentares de sua base aliada de terem utilizado um grupo de 20 pessoas para receberem de janeiro a julho de 2002, por meio de procuração, o salário que o governo de Roraima pagou para 319 servidores ?fantasmas?.

O TRE-RR cassou em 2004 os mandatos dos deputados estaduais Flávio Chaves (PV) e Jálser Renier (PFL). Chaves conseguiu voltar ao mandato por decisão do Tribunal Superior Eleitoral que por sua vez manteve a cassação de Renier. Ambos foram acusados de compra de votos.

Juristas ouvidos no Tribunal Regional Eleitoral não adiantam qual pode ser a decisão de relator as investigações, antecipando apenas que no caso dos ex-deputados envolvidos a pena pode ser apenas de inelegibilidade. Quantos aos parlamentares detentores de mandatos, podem ser cassados.

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Muito bem, já que vc aguentou a leitura e deve estar pensando como diabos Roraima chegou a este ponto, vale a pena ler a versão do Marlen:


E ASSIM TUDO COMEÇOU

Eduardo Levischi, então ex-diretor geral e todo poderoso do DER foi exonerado e abandonado pelo Reizinho de Coreaú. Estando entregue a própria sorte e tendo o Ministério Público em seu calcanhar, o matreiro Levischi tomou a decisão mais sensata para sua vida. Assim pensou...'entrego tudo o que sei e o que tenho de documentos, tendo em troca privilégios no processo do roubo de milhões de reais...'. (Leia o artigo completo)


Ainda sobre o novo governo

(Infome da gerência: Voltaremos da surrealidade na próxima semana)


Em tempos de mudança de governo, o melhor informativo a ser lido não é da iniciativa privada, mas sim o Diário Oficial do Estado.

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Nem nas festas feitas pelo ex-governador Flamarion Portela tantos carros ficavam parados por tantas horas na área de estacionamento da sede do Executivo.

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O mundo da política não é lógico. Quem estava à frente, fica para trás. Quem estava nos bastidores, ganha um holofote só para ele. Ou, no caso, a Assessoria de Comunicação.

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Ottomar resgatou do ostracismo o dono do jingle mais lembrado das campanhas políticas de Roraima: Belgerrac Batista, que nas primeiras eleições diretas para governador de Roraima, no início da década de 90, com a slogam: tá tudo bem, tudo Bell!

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O secretariado do novo governo é formado por antigos colaboradores e uma turma que se aliou e acompanhou o brigadeiro mais recentemente. Entre os cargos que já distribuiu, beneficiou um cunhado, a esposa (ex-senadora Marluce Pinto), um genro e um sobrinho. Alguém falou em nepotismo?

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O governador já disse a que veio: é sim candidato a reeleição e vai trabalhar para que a reserva Raposa ? Serra do Sol não seja homologada em área única, com seus 1,8 milhão de hectares. O CIR que se dane.

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O PT nacional disse à Agência Folha que aceitar Flamarion no partido foi um erro que poderia ter sido evitado, um alerta, para ser mais exato. Mas só agora eles perceberam, depois de dezenas de denúncias de corrupção, um ano de afastamento da sigla, vários julgamentos na Justiça e cassação do mandato do homem?




quarta-feira, novembro 10, 2004

TSE nega recurso e governador de Roraima deve deixar cargo (Folha Online)

TSE afasta o governador de Roraima (Agência Estado)

Ottomar será diplomado à tarde no TRE e empossado à noite na ALE (Brasil Norte)

A queda do governador Flamarion Portela e o retorno de Ottomar Pinto ao governo estadual deixou muita gente suando em Roraima. E não foi por conta dos mais ou menos 40 graus de temperatura ambiente que estamos passando em Boa Vista.
Ottomar no poder significa a total reengenharia da política roraimense, com mudanças óbvias nos cargos de chefia do governo e o revigoramento do grupo do velho brigadeiro, que passou os últimos quatro anos à mingua e está com fome, muita fome.
Significa também que o foco dos investimentos estaduais deve mudar, com novas empresas sendo beneficiadas pelos contratos e novas prioridades sendo estabelecidas.
A decisão da justiça é um tapa na cara do PT local, partido do qual Flamarion estava licenciado desde o ano passado.
Com o novo governador, o PT perde a liderança do governo na Assembléia Legislativa e a chefia de secretarias importantes como a de Educação, com 900 cargos comissionados e 12 mil postos de trabalho.
O retorno doerá principalmente para algumas empresas de comunicação, a exemplo do grupo Folha de Boa Vista, cujo dono é irmão do ex-vice-governador Salomão Cruz e redator de uma coluna que nunca poupou críticas ao brigadeiro, além de desqualificar a batalha judicial vencida na noite de terça-feira.
Mas será fantástica para outras, como a retransmissora da Rede TV!, pertencente à esposa de Ottomar, ex-senadora Marluce Pinto. Quem sabe, até surja um novo jornal na cidade.

Este cronista só quer saber, caso não haja nenhuma reviravolta judicial:
1) Será que Ottomar, principal denunciante do esquema dos servidores fantasmas, vai montar cooperativas e criar novos cargos comissionados para contratar seus seguidores ou vai chamar com mais celeridade as pessoas que foram aprovadas no concurso de preenchimento das vagas do quadro funcional do Estado?
2) Quais serão as prioridades administrativas do novo governador, conhecido como homem de priorizar grandes obras?
3) Como será a relação com os deputados, que o renegaram desde que deixou o governo estadual em 1992, depois de eleger Neudo Campos, o herdeiro malvado?
4) Como fica a questão dos cargos federais à disposição do PT local (aliás, perderam nesta quarta a superintendência do Incra)?
5) Como será a disputa eleitoral daqui a dois anos, caso o grupo de Ottomar entre em confronto direto com o do senador Romero Jucá, atualmente o mais estruturado de Roraima?
6) Onde vão enfiar as caras aqueles que passaram dois anos andando de salto alto por conta dos postos e benefícios recebidos pelo governo de Flamarion Portela?
7) Será que o brigadeiro vai agüentar o tranco de governar um Estado que deve muitos de seus problemas a ele, conforme sempre disse a oposição?
8) Será que Flamarion continua vivendo no Estado?

terça-feira, novembro 09, 2004

Conversas



Ela disse:
- Conta-me um segredo teu.
Ele respondeu:
- Eu não. Vai que o usas depois contra mim.
Ela retrucou:
- Não sou dessas. Quem age assim é jornalista ou político. Eu sou apenas uma psicóloga.
Ele sorriu:
-Então chega mais...

segunda-feira, novembro 08, 2004

Coisas de jornalismo

Ricardo Kotscho limpa as gavetas para deixar a Assessoria de Imprensa do governo Lula, mas ainda é possível encontrar nas bancas a edição da Caros Amigos com o jornalista falando sobre o seu trabalho nos últimos dois anos.

A Agência Câmara noticia a retirada de tramitação do projeto de lei que cria o Conselho Federal de Jornalismo, apoiado por quem acredita que alguma coisa deve ser feita para quebrar a censura praticada pelos barões da mídia e criticado pelos que acreditam que o governo quer apenas determinar o que é bom ou ruim para ser veiculado. Nos dois lados, perceba-se, o discurso do acesso livre à informação.

No site do Marlen, um artigo sobre o CFJ questiona se vale a pena que exista e também outros assuntos referentes à profissão de jornalista.

Em Roraima, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais elege nova diretoria.

Enquanto isso, uma nova revolução parece estar a caminho. É o jornalismo na web renovando-se, conforme o Observatório da Imprensa. Agora é a vez de um jornal planetário, multilíngüe e sem donos.

sexta-feira, novembro 05, 2004

Profissões

Quem nasceu para pichador nunca chega a Howard Pyle, muito menos a Basquiat.

quarta-feira, novembro 03, 2004

Às mestras

Olha só, se és daqueles que acha que blog bom é aquele que é asséptico como um jornal, melhor pular este post e ir direto para os que estão lá embaixo. Ou então fecha a janela. O texto a seguir é repreensivelmente pessoal.
Continuas aí? Então agüenta, que hoje está quase brega.
Depois de um final de semana esticado, de ler o Cláudio falando de seus 26 felizes anos de casamento e o Nei comentando no mesmo post sobre como os amores nos ajudam a transpor obstáculos; de tomar ciência que meus pais completam 31 anos de casados em dezembro (com uma pausa para o almoço, que ninguém é de ferro); que meus avós maternos já completaram 55 anos de união; e conhecer a De falando sobre experiências de vida, comecei a pensar no que aprendi com meus romances.
Percebi, finalmente, o quanto as mulheres que beijei são responsáveis por parte do que sou (nada como poder jogar a culpa de nossos erros em mais alguém além de nossos pais).
Se não fossem elas, como poderia saber que há momentos para amar ao som de Bach ou de Mozart e outros em que Zeca Baleiro, Alcione ou uma salsa das antigas fazem muito bem as honras da casa? Ou então, aprender que ciúme é coisa tola, de quem não tem confiança em si mesmo?
Houve romances que me deram lições de cidadania, mostrando-me na prática que vale a pena caminhar alguns metros e colocar o copo ou a garrafa vazia na lixeira e não jogá-los na rua. Outros demonstraram que dizer bom dia todos os dias vale a pena, mesmo quando não há reciprocidade.
De tanto ensinar-me a ouvir, aprendi com elas que um "não" às vezes não é um "sim" (contrariando a lógica popular), mas quem sabe um "talvez" e que para desfrutar de alguns amores é preciso dividi-los com outras pessoas. Afinal, nem tudo na vida é feito de exclusividade.
Estas moças-professoras me ensinaram que marcar encontros com duas pessoas distintas na mesma hora nunca dá certo e que beijar amigas pode ser bom, mas às vezes pode ser uma batalha na qual se perde a amiga e não se ganha a mulher.
Elas me mostraram ser o silêncio necessário em certas ocasiões, principalmente quando choram e desmancham a imagem construída de mulheres quase insensíveis.
Entre as lições mais difíceis, a necessidade da confiança, do saber baixar a guarda para dar uma chance aos outros, mesmo que isso signifique expor alguns medos e segredos. Entre as fáceis, descobrir que amor não é tudo e que para alguns relacionamentos basta haver um pouco de carinho em encontros esporádicos.
Os romances afetaram até meu paladar (ah, te vi agora pensando em cenas de morango e chantilly como as do filme 9 semanas e meio de amor. Tsc, tsc, pega leve, leitor), fazendo-me descobrir que vez ou outra é sempre bom abastecer a geladeira com frutas, torradas e gelatina Royal para espantar a fome depois de rir e brincar.
Enfim, pensando um pouco mais, lembraria de muitas outras contribuições (e de algumas mágoas, com certeza), mas, bah, o que nunca conseguiram foi ensinar-me a dançar.
E tu, me diz aí nos comments, o que aprendestes com teus romances?