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quinta-feira, maio 10, 2007

Dias no garimpo



Acordamos cedo. A noite foi fria, choveu. Ainda bem que nenhum mosquito apareceu para incomodar. Talvez o frio os espante. Todos já se levantaram, sou o último a deixar a rede. Com uma toalha servindo de casaco, escovo os dentes com água tão gelada como se fosse retirada de uma geladeira.

Venta levemente, a temperatura ambiente mudará em breve, depois que o sol conseguir espantar de vez as nuvens. Por enquanto, frio. Dormir num barracão sem paredes não é muito agradável. O café da manhã é frugal e deve ser engolido rápido, pois as máquinas já estão ligadas.

Juntar e lavar o cascalho, segurar na mangueira e direcionar o jorro para o material. Agora é esperar que desse monte saia uma pedra pelo menos. Parte da produção é dos peões, mas é o chefe quem sempre ganha. Ele leva o produto para a capital, vende pelo melhor preço e repete de novo que a cotação está pior do que na última vez.

Almoçar em menos de cinco minutos, correr para continuar o trabalho, chamar o colega da vez para que ele também corra...

De um acampamento a outro, muitos igarapés represados com a areia de seu próprio leito, cheios de mercúrio. A água, apesar de transparente, não é boa para beber nem tomar banho. A camada vegetal some, sobra o branco da argila e sua asfixiante refração que aumenta o calor do meio-dia.

São 20 horas e ainda há pessoas trabalhando. O trator não pára de juntar material. A cozinheira já terminou a janta, gordurosa, calórica, quem trabalha o dia inteiro sente muita, muita fome. Uns comem nas redes, outros em pé, o restante em bancos improvisados.
Urinar, defecar, escovar os dentes, tomar banho, trabalhar. Não há paredes por aqui. Tudo é feito em contato com a natureza, ao ar livre.

O ouro que sobra nas pequenas cicatrizes do acampamento alimenta o sonho das moedas a mais ou a gorjeta da Guarda Nacional, que parece estar ali só para ser agradada e não ficar desagradável.

Hora de partir, banho rápido usando a própria mangueira de lavagem de material. Atravessamos a savana, deixamos para trás corruptelas, suas casas feitas com latas de querosene e a vila principal. Agora é voar por uma hora e voltar à vida urbana normal.