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quinta-feira, junho 06, 2013

Sobre a celebração das mortes de criminosos em Boa Vista

Sim, a criminalidade está alta, todo mundo está com medo de topar com um bandido na rua, de ser assaltado, agredido, morto. Todo mundo quer providências imediatas e a mais bacana sempre parece ser a institucionalização da pena de morte.

Enquanto isso não chega,  quase todo mundo nas redes sociais, principalmente no Facebook, vibra quando a polícia mata, seja em qual situação for, um criminoso. Afinal, “bandido bom é bandido morto”.

Cuidado, muito cuidado. Hoje comemora-se quando os forças policiais matam os (supostos ou confirmados) bandidos durante uma tentativa qualquer de crime ou numa abordagem de recaptura.

E amanhã, se as forças policiais se empolgarem e decidirem exterminar todos os criminosos?  Vão bater palma?

E se depois de amanhã as forças policiais decidirem exterminam quem eles acharem que é criminoso? Vão comemorar?

E se depois disso for a vez de qualquer pessoa desagradável aos olhos das forças policiais? Como vai ser? Gritos de alegria? E se for aquele amigo do peito que você sabe que nunca fez mal a ninguém além dele mesmo quando comia gordura em excesso?

O mundo está violento, repito o óbvio. Mesmo assim é preciso cuidado, muito cuidado, com as manifestações de apoio à violência institucional. Criminalidade não se combate com mais criminalidade, mesmo que pareça a serviço da comunidade.

Lembrem-se, apoiadores da morte, não se trata de defender a ausência de punição para os que desrespeitam a lei. Trata-se de não concordar com o desrespeito à lei.

Afinal, já é suficiente apoiar tacitamente as penas de morte não oficiais vigorantes nas cadeias e nas periferias. Se fazer isso já nos coloca de volta em tempos medievais, aplaudir a morte alheia nos levará à barbárie.

Para fechar, um texto que ilustra o que acontece quando a violência invade nossas vidas,convidada com aplausos ou não: 

"Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

(Trecho do poema No Caminho, com Maiakóvski, de Eduardo Alves da Costa. Leia-o completo aqui.)

quinta-feira, outubro 11, 2012

Fazendo BookCrossing em Boa Vista




Vou participar do 5o BookCrossing Blogueiro, uma iniciativa tocada pela antiga companheira de blogagens Luma Rosa (acho até que começamos juntos na época dos blogs do IG e depois migramos para a plataforma blogger).

Enfim, a Luma convidou pela 5a vez e agora é que li de fato o que era. Basicamente é soltar um livro em algum lugar público com uma nota dizendo que foi proposital e que se espera da pessoa que achou a leitura nova liberação do volume. Mais detalhes? Vai aqui.

O livro será um exemplar de minha obra Sem Grandes Delongas. O local? Ainda não sei...

Se achar um desses por aí, fui eu que joguei pra ti, bebê




P.S.: quando este ano estive em Sampa, deixei alguns livros meus e um de Zanny Adairalba na Casa das Rosas, um dos pontos de BookCrossing lá no sudeste. A moça do atendimento disse que ia cadastrar e botar pro mundo. Se fez, não sei. Espero que um dia alguém me passe e-mail dizendo que leu.

domingo, setembro 18, 2011

Pé n’água: literando pelo rio Macacoari no Amapá

Participei entre os dias 25 de agosto a 3 de setembro da Pororoca Cultural, evento literário realizado em três comunidades ribeirinhas do Amapá pelo arte-educador Jonas Banhos, do Movimento NossaCasa de Cultura e Cidadania.

 Macapá - Carmo do Macacoari - São Tomé - Foz do Macacoari - Macapá: esse foi o trecho

Representando o Coletivo Arteliteratura Caimbé, me taquei para o estado cuja capital é cortada pela imaginária Linha do Equador. A viagem foi mais uma etapa do projeto Caminhada Arteliteratura, que congrega todas as atividades fora de Boa Vista feitas pela equipe do Coletivo Caimbé, e integrou-se o projeto Mochileiro Tuxaua, escrito por Jonas e aprovado com o prêmio Tuxaua Cultura Viva, do Ministério da Cultura. 


Foram 12h30 para chegar em Macapá. E se você olhar no mapa, Roraima e Amapá estão praticamente colados, separados no Brasil por um pedaço do Amazonas. O lance são as conexões. Fui de Gol, saindo de Boa Vista 2h30 da madrugada, dormindo duas ou três horas no aeroporto de Manaus (AM), fazendo uma escala em Santarém e descendo em Belém (PA), onde fiquei outras horas e encontrei, vindos de algum lugar do País, Jonas Banhos e Rita de Cácia, também do Movimento NossaCasa de Cultura e Cidadania.

Foz do Macacoari - Edgar 386

De lá para Macapá o tempo de viagem não dá uma hora. Chegamos às 15h. E essa é a rota mais curta e rápida. A primeira impressão foi ter chegado novamente em Tabatinga, na fronteira com a Colômbia, cidadezinha onde estive em 2004, de passagem para o Peru, ou ter voltado no tempo, desembarcando no aeroporto de Boa Vista há uns seis anos, quando ainda não havia sido reformado e as autoridades não tinham feito uma grande festa por conta de uma escada rolante. 


O aeroporto internacional de Macapá é acanhado em sua área de desembarque. Os passageiros ainda são obrigados a descer do avião e enfrentar o céu aberto para chegar numa escura sala e poder pegar suas bagagens. O bom é que ainda tem uma sacada para ver quem vai ou chega e dar tchauzinho (Bem Boa Vista em anos passados). 






Um quadro imenso, que Jonas me contou ser de um dos grandes pintores do Amapá, decora a sala e serve como local de encostar coisas. Ao lado do acanhado aeroporto, uma grande obra de modernização parece estar parada. Dentro dele, a muvuca é grande para poder pegar as bagagens. E eu só pensava no Sarney e seus diversos mandatos como senador do Amapá.


A cidade é quente. Mais quente que Boa Vista até. É a selva amazônica que traz a sua umidade e deixa tudo com jeito de Manaus, outro lugarzinho que me dá medo ir por conta do calor. E tem o fator primordial: estando em Macapá, se está no meio do mundo, com direito a pular de um hemisfério a outro em apenas um passo. Ou seja, é sol que não acaba nunca. Em compensação, a brisa que vem do Amazonas é um espetáculo da natureza, literalmente falando.


Macapá tem uma imensa orla frequentada a toda hora por pessoas que buscam relaxar à sombra da Fortaleza de São José de Macapá, beber uma gengibirra, jogar uma partida de futlama ou fazer suas caminhadas (Neste caso, uma observação: o espaço da calçada da orla mal dá para quadro pessoas apertadas umas com as outras. Acho que quiseram economizar no cimento da largura para ter mais comprimento.). Um final de tarde na Orla, olhando a maresia e sentindo o vento gostoso que bate, e você esquece que o meio-dia (e as 10h, 11h, 13h, 14h, 15h,16h e 17h) é escaldante. Do jeitinho de Roraima.






A maquete da forteleza

Não é o mar, é o rio-mar Amazonas

 Olha eu no meio do mundo, cada perna em um hemisfério.



Macapá não possui muitos prédios. Parece Boa Vista. Percebi que há muitas casas com muros baixos, alguns até assustadoramente baixos demais para os padrões de Boa Vista, onde qualquer casa furreca tem muro de dois metros e meio e uma cerca elétrica ligada diretamente na usina de energia. Vi muitas residências feitas de madeira, com uma arquitetura que me lembrou as casas de filmes ambientados no interior dos Estados Unidos.


O material, me disseram, era mais barato que tijolo e cimento. Deduzi que os formatos poderiam ser herança do tempo em que havia muitos gringos morando lá enquanto trabalhavam na extração de minério e ficavam na base militar que os EUA instalaram durante a Segunda Guerra.


Gostei muito de ver que ainda se encontram muitas árvores em ruas comerciais. Mangueiras e outras espécies servem como abrigo para pedestres e clientes, dando um toque bacana à cidade. Diferentemente de Boa Vista, onde a primeira medida do dono ou do arquiteto é mandar derrubar o que estiver na frente para não atrapalhar a visibilidade da placa do empreendimento. Depois disso, mandam instalar vidros fumês e potentes centrais de ar condicionado para amainar o calor. Quando imbuídos de espírito ambiental, plantam umas palmeiras para dar um “toque amazônico” aos comércios.


E falando em comércio, mercadinhos, mercearias e quitandas são chamados em Macapá de Mini Box. É mini box para tudo quanto é lado. Daí entendi de onde a banda Mini Box Lunar tirou o seu nome. É como se fosse Mercadinho Lunar. Na primeira noite em Macapá, 23 de agosto, tive a sorte de pegar um evento legal, o Navegando na vanguarda, em frente ao Teatro das Bacabeiras, com diversas atrações musicais, entre elas a Lunar.


Foi lá que bebi minha primeira dose de gengibirra e, mais uma vez, refleti sobre a loucura que é o deslocamento rápido (mesmo durando tanto entre dois estados tão próximos). Afinal, uma noite antes estava em Boa Vista e menos de 24 horas depois estava curtindo o som de gente totalmente desconhecida e que não desconfiava que houvesse um índio na terra deles.





Olha a galega lindinha psicodélica vocalista da Mini Box Lunar

Antes de pegar a van que nos levaria até a comunidade Carmo do Macacoari, visitei a sede de NossaCasa de Cultura e Cidadania, conheci in loco o projeto da biblioteca aberta 24h (é um pegue-e-devolva muito legal que funciona no Centrão da cidade), estive na escola Conexão Aquarela para o começo de uma parceria entre a instituição e a NossaCasa e participei de duas entrevistas de para falar da viagem.














A primeira foi com Humberto Moreira, radialista da Difusora do Amapá que já esteve diversas vezes em Roraima, inclusive na inauguração do Estádio Canarinho, hoje Flamarion Vasconcelos, e conhece várias figuras relevantes da cultura local. Ele chegou a cantar um trecho da música “Roraimeira”. Olha aqui o trecho final do papo com ele:





A outra entrevista foi no programa do Olímpio Guarany. Essa a gente gravou enquanto passava na TV. Assista e veja a mancada que dou no meio dela:







Bem, dadas as entrevistas, comido o peixe frito com açaí no mercado municipal, o camarão na orla e carregada a van com muitos livros e gibis, embicamos rumo à comunidade Carmo do Macacoari, a algumas horas por terra de Macapá. Estava com tanto sono que não vi quando deixamos a área urbana. Fui acordar já no trecho de piçarra e buracos antes da comunidade. A vegetação é parecida com o lavrado/cerrado de Roraima, tendo inclusive buritizais, gramíneas e plantações de milho e arroz em vários pontos.


Carmo do Macacoari tem energia elétrica 24 horas, padaria, duas quitandas (ou mini box, conforme o costume local), uma escola, igreja de São Sebastião (que serve como praça com seus três bancos e meio), cemitério, a rua principal asfaltada e dois campos de futebol que vivem cheios de meninas e meninos. As noites são modorrentas e a iluminação pública péssima.


Não há o que fazer além de jogar bola, tomar banho no rio ou esperar a adolescência chegar para começar a namorar e, se for de gosto, beber e fumar. A cara de Guasipati, cidadezinha da Venezuela onde cresci. A diferença é que lá tem mais ruas.


Quando chegamos, a criançada ficou doida, perguntando pelos livros, pelo cinema, pelas brincadeiras e pelo banho no rio. Jonas e Rita fazem a festa no local.


Ficamos três dias trabalhando e divertindo-nos muito com a turminha. Os meus companheiros montaram barracas e estenderam lonas com livros, gibis e material de desenho, colocaram megafones a disposição dos leitores mirins, fizeram sessões de cinema com um projetor montado na frente da sede do Movimento NossaCasa, oficinas de fotografia e artereciclagem e outro bocado de ações bacanas.


Eu, que fui para o Amapá a trabalho, também trabalhei. Expus meus textos da Mostra Fotográfica Curt@s Histórias e Poesias e fiz quatro oficinas de criação literária, sendo duas com turmas da escola local e outras com o público da NossaCasa.

NossaCasa 172



Da primeira para a última, mudei tudo para adaptar-me à realidade do pessoal, afetada pela timidez, falta de investimento na capacitação docente e de material adequado ao seu desenvolvimento educacional. Apesar do que possa parecer, achei muito bom o resultado. No final, já estavam produzindo seus versos e ilustrando poemas meus, de outros autores e criados por eles mesmos.












O processo foi bacana. Foi de demolição, construção e reconstrução de conceitos e métodos em busca do melhor resultado, da melhor forma de semear gosto pela literatura, o grande desafio que decidi encarar quando me juntei aos meus colegas do Coletivo Arteliteratura Caimbé. Bom, nem tudo foi trampo. Teve também banho no rio, devoração de camarão comprado a seis reais o quilo, dormida em barracas depois de uns 9 ou 10 anos (a última vez foi quando subi o Monte Roraima, lá na distante juventude) e uns bons bate-papos com o seu Zé Picanço, tio do Jonas, quilombola, agricultor, capitão de barco e dono da casa onde montamos base.






 Rá! Esse feioso, tampando o nariz, sou eu, todo aventureiro, pulando no Macacoari



 Cineminha na NossaCasa










Segurança antes de tudo. Tenho filho para criar.

Deixamos Carmo do Macacoaria sob protesto das crianças, que queriam mais sessões de leitura, desenho e cinema. Embarcamos na segunda (29 de agosto) no barco “pó-pó-pó” de seu Zé rumo à comunidade São Tomé, distante umas quatro ou cinco horas do Carmo, conforme a maré. O Macacoari foi alargando, ficando barrento, a selva crescendo, mostrando seus açaizais imensos, suas margens cercadas pelos fazendeiros, que botam arame até nas entradas dos pequenos igarapés.


O tempo aqui tem outra noção. Ele vai e vem conforme as águas sobem e descem, baixam e crescem, conforme o açaí está ou não maduro ainda. Passamos por dezenas de palafitas, por um quilombo, por tracajás e araras, por ribeirinhos descendo o rio em suas voadeiras e “montarias”, nome dado às canoas cavadas no tronco de árvores ou feitas com três tábuas.

Enquanto subíamos, seu Zé ia contando histórias da região e tirando sarro, junto com a Rita, da minha falta de conhecimentos básicos sobre natação. Para seu Zé e todas as crianças do Carmo, que nascem praticamente anfíbios, uma pessoa que não sabe nadar é, no mínimo, estranha. Como explicar o injustificável?


Chegamos em São Tomé com a maré cheia, baixamos o material no porto da comunidade e almoçamos na casa da senhora Borges, minha parente distante, mãe de 14 filhos e participante da oficina de arte. Depois disso, oficina de literatura e ilustração, arte, roda de leitura, fotografias de novos anfíbios, banho no Macacoari e sessão de cinema na escola da comunidade. Em São Tomé, assim como na Foz do Macacoari, só se anda acima do nível do chão, da vazante. As ruas, avenidas e calçadas são passarelas de madeira mais largas, menos largas, conforme a situação. Energia elétrica? Duas ou três horas por noite, conforme o combustível do motor. Se estragar ou não forem pegar, ficam no escuro vários dias.

 Árvores sobre árvores



 Pensando em largar tudo e ir morar na selva...



 Guincho de montaria



 São Tomé













 Passarelas, passarelas, passarelas












 Capitão Zé Picanço e o aprendiz de marinheiro
Arte em tampas de garrafa PET






 Eu, corajoso



Adorei essa iconografia: é uma voadeira



Eu, urbano 100%, demorei a me acostumar com a situação. Depois me ambientei tanto que ao chegar em Macapá já estava caminhando como os ribeirinhos. Outro teste do meu processo de adaptação à selva amapaense foi passar as malas de uma embarcação para outra em São Tomé.


Seu Zé Picanço me pegou para marinheiro, deu as instruções e mandou tomar cuidado para não cair na água. Eu, valente e sem colete salva-vidas, encarei a responsa e quase tirei nota 10 na prova. Faltou só subir no telhado do barco para empurrar as malas, mas antes disso um morador, com pena de mim, desceu do porto para nos ajudar. Quer dizer, pensando bem, eu tirei nota 10 em tudo o que seu Zé mandou fazer. Tanto é que no último dia navegando com ele já estava quase com a patente de capitão. Como falei antes, só faltava aprender a nadar.


À esquerda, comunidade Foz do Macacoari. Abaixo do barco, o rio de mesmo nome. O horizonte aí é o Amazonas, imenso e forte


Saímos na terça-feira, 30 de agosto, em direção à Foz do Macacoari, comunidade literalmente na esquina com o colosso rio Amazonas. Foram duas ou três horas subindo. Aqui aconteceu o momento mais chato da viagem: descobri que meu caderno de anotações havia ficado no Carmo.


Nele tem de tudo: ilustrações, poemas, microcontos, notas de reuniões, telefones, lista de coisas para fazer que nunca faço mas é bom lembrar que devo fazer... Ficando o livro no Carmo e tendo chegado à Foz, não tinha como pegar um táxi e buscar o caderno. O jeito foi esquecer e tocar o barco, voadeira, montaria pra frente.



Nessas alturas, eu já estava sabendo que horas a maré subia e baixava, como manter o equilíbrio de um barco pequeno e outros detalhes da vida marinheira. Só faltou saber nadar. Ficamos na casa de seu Martinho e dona Creuza, extrativistas, pais de várias moças e rapazes que conseguiram concluir o ensino superior com muito esforço e quilos de açaí vendidos no porto de Macapá.



 








 Clique para ler os nomes das duas voadeiras


Seu Martinho é a figura que dá a seguinte entrevista, falando sobre a importância dos projetos de incentivo à leitura para manter os agricultores no campo:






Se você viu todo o vídeo, percebeu que o homem é ligado no mundo. Foi um dos fundadores do PT no Amapá, ajudou a organizar o movimento extrativista e lê muito. A obra atual é Assim falou Zaratustra, do Nietzsche, texto que eu ainda não tive coragem de encarar. De passarela em passarela, saímos por quatro dias da casa de seu Martinho para a biblioteca comunitária da Foz.



 Carangueira: não se meta com ela e ela não se mete com você

 Li essa obra quando era criança pequena na Venezuela. Foi presente de meus avôs maternos




 Clique para ampliar e ler







A Quele, nora de seu Martinho, é quem abre o espaço semanalmente para oferecer um recanto de leitura às crianças e adolescentes da Foz. Funcionando no prédio onde havia antes uma escola, a biblioteca tem um acervo de revistas, gibs e livros muito bacana. Recentemente compraram, com a verba de um edital do Ministério da Cultura, diversos exemplares da literatura amapaense. Entre eles veio um chamado Mazagão, a cidade que atravessou o Atlântico. Fantástica a história da população que saiu durante o reinado português da África para Lisboa, depois para Belém e no fim foi instalada no que viria a ser o estado do Amapá.


Olha aqui uma entrevista com a Quele e a Gabi, sua sobrinha, falando sobre as atividades na biblioteca:





Sentiu como a leitura muda as pessoas? Conhecendo esse povo me lembrei das visitas e bibliotecas que deixamos em cinco comunidades indígenas de Roraima durante o primeiro semestre deste ano.


A Caminhada Arteliteratura foi justamente isso: um semear de mudanças. Por isso sempre disse para os diretores e tuxauas que se tratava de esperar resultados a médio e longo prazo, sempre cobrando do Poder Público capacitações para saber como dinamizar os espaços literários. Ficamos quatro dias na Foz.


Fizemos atividades na biblioteca comunitária, na escola estadual Eugênio Machado e na casa de seu Martinho, conversamos muito com os professores e moradores sobre o trabalho, tomamos banho de rio todo dia, passamos calor na beira do Amazonas, pois a selva é quente do mesmo jeito.

 Os alunos chegam de barco. Em média, os mais distantes moram a duas, duas horas e meia de casa. A merenda da escola, com muita economia para que não falte nehum dia, é um copo de nescau com algumas bolachas de água e sal



Foz Macacoari Edgar 2011 191
A turma, ouvindo poesia de olhos fechados











 






Essa moça bonita se chama Rayane. Colocando um "H" teria o mesmo nome da filha de meu amigo Rhayder Abensour, da banda Iekuana


 Preparando o cinema na casa de seu Martinho


 Olha a professora de português





 Voltando para a casa de seu Martinho






Acima de tudo, nos divertimos muito fazendo o bem. Demos uma passada na comunidade Igarapé do Amazonas, antiga Igarapé dos Porcos, em frente à Foz, mas já no município de Macapá. Lá conversamos com o seu Zeca, irmão de seu Martinho. Ele nos mostrou de onde vem o palmito que muita gente adora em sua pizza. Confere no vídeo:




Como dito antes, esta foi uma viagem de aprendizado, muito aprendizado. Fiz coisas que nunca havia feito na vida, como entrar numa plantação de açaí, comer arraia, andar em passarelas de madeira, carregar sacolas de um barco para outro, tomar gengibirra, esquivar-me de aranhas caranguejeiras e conviver com ribeirinhos, entre outras que agora esqueço. Só faltou ir ao evento poético promovido pela Alcinéa Cavalcante, o “Poesia na boca da noite”. Até fiz contato via Twitter, mas não deu. Fica pra próxima. 


A Pororoca Cultural terminou no sábado, 3 de setembro, quando deixamos a Foz de madrugada, rumo a Macapá, na minha segunda viagem pela Amazonas. A primeira foi indo para Iquitos, há muito tempo. Vi o sol nascer um pouco antes de chegar na capital amapense, desembarcar tudo e preparar-me para viajar na próxima madrugada de volta a Boa Vista, no trecho Macapá-Belém-Brasília-Manaus-Boa Vista. E esse era o mais rápido...


Nascendo
 Nascido


Macapá, vista do Amazonas


Antes de fechar um exemplo de como o mundo é pequeno. Na última noite, enquanto comprava algo para comer no supermercado próximo ao hotel, encontrei uma professora de português que havia conhecido na Foz. Se ficasse mais uns dias estava como em Boa Vista, totalmente enturmado. 


Neste link você pode conferir umas 500 fotos da viagem, feitas por mim e por Jonas Banhos durante a Pororoca Cultural 2011.


Neste aqui você pode ler um artigo que publiquei no site Overmundo falando sobre a Caminhada Arteliteratura, a Pororoca Cultural e políticas públicas para a área da literatura.


Se isto fosse um programa de TV, te chamava para a próxima viagem literária. Mas não é. Tudo na vida de pessoas como a turma do Coletivo Caimbé e de NossaCasa de Cultura depende de verba e apoio. Por isso, fica o convite: vamos conversar sobre uma visita à tua região? Apoiando bem, garanto que as atividades te farão bem.