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quinta-feira, junho 25, 2009

Boa Vista ficando mais velha



Há quase 119 anos, num distante 9 de julho, o governador do Amazonas
(àquela tempo, Roraima era parte do gigantesco Estado do Amazonas), Augusto Ximenes de Villeroy, elevou a Freguesia de Nossa Senhora do Carmo da Boa Vista do Rio Branco, pertencente ao Município de Moura, à categoria de Município. Na década de 1930 é que passou a chamar-se definitivamente Boa Vista. Naquela época, tudo chegava por barco.




O desembarque era feito no
porto do cimento, aí onde fica o banco de areia na parte central da foto, feita nas primeiras décadas do século passado. Subindo o barranco, chegava-se à sede da fazenda que originou a cidade. Na sequência, fechando o triangulo, à esquerda ficava a Igreja Matriz e à direita a Intendência. A cidade, pequenina, acabava logo em seguida.


A foto colorida tem uns dois anos de feita e é do fotojornalista Tiago
Orihuela. No lugar do porto do cimento, a Orla Tauamanan, erguida sobre o antigo barranco. Sobreviveram daquela época alguns prédios, entre eles a sede da fazenda e a igreja Matriz. A cidade, como se percebe, cresceu um bocado, principalmente na década de 1980, quando milhares de garimpeiros baixaram por aqui atrás de ouro e diamante.
Mas isso é outra história, para outro post.




E nunca diga que o blog Crônicas da Fronteira é somente diversão para
gente desocupada. Aqui nois fala de história também.


É vero que também falamos bobagens com jeito de coisa séria. Por isso, aproveitando o gancho, vai no Orkut e te liga nas comunidades mais importantes dos últimos tempos:


Eu leio Crônicas da Fronteira (que pelo nome você pode deduzir o tema, inteligente leitor) e Eu conheço/adoro o Edgarzinho (Não é sobre mim. Ninguém gosta de mim a ponto de fazer comunidade amorosa. É sobre o meu filhotinho índio. Dele sim, todo mundo gosta. Até quem não gosta de mim.)


quarta-feira, junho 10, 2009

Quarta, 10 de junho de 2009


Um ano e cinco meses.



Objeto de meu pleno amor, causador das minhas dívidas, ausência das minhas eternas dúvidas.

segunda-feira, agosto 27, 2007

Como criar um filho

Definir as regras de criação de um filho não é fácil. Qualquer deslize e você o terá no divã do psicoanalista, na mesa do bar ou no banco dos réus argumentando que a forma como foi criado é responsável pelos seus problemas juvenis ou adultos.

É por isso que sempre gostei de ouvir histórias de criação. A mais recente é a do fotografo Orib Ziedson e seu filho Gabriel, que tem cerca de 10 anos.

Ziedson conta que o guri vai quatro vezes por semana às aulas do projeto Arte Jovem do Sesi, onde tem aulas de um monte de coisas, como música, teatro e não sei mais o quê. Além disso,
Gabriel, que às vezes carrega a mesma cara de mal-humorado do pai, tem aulas de caratê à noite (por isso o jovem faixa amarela também é um dos líderes da turminha).

Como eu mesmo gostaria de ter estudado um instrumento musical quando era mais jovem mas a minha mãe, por N motivos, não me matriculou, elogiei a iniciativa do Orib de estimular o guri a fazer tantas atividades.

Orib me diz que, mesmo com as críticas da avó materna do Gabriel alegando um possível stress do moleque, é partidário do seguinte estilo de vida:

- Eu fui criado sabendo que criança deve fazer o que os pais querem. Se o Gabriel vai ser vagabundo depois que crescer é problema dele, mas enquanto estiver comendo de meu pirão, é do meu jeito: arte, estudos e esporte. Disso ele não vai poder reclamar.

Dona Maria José, minha avó, pensa da mesma forma: criança, velho e soldado deve obedecer determinações superiores. Por isso já está decidido o que farei quando o meu filho nascer: sendo
indiazinha ou indiozinho, terá uma criação exemplar, sem as molezas dos meninos brancos.

Para começar, já defini a regra número 1: aprendeu a caminhar e está com fome? Muito bem, pegue o arco e a flecha e vá caçar ou coletar.

Agora só falta combinar com a mãe a aplicação do AC (Ato de Criação) 1.

sexta-feira, agosto 17, 2007

Grávido na cidade

Esse pessoal de cidade, acostumado a muito conforto trazido pela ciência do homem branco, acaba por ficar um pouco molenga. Falta-lhes um muito da fibra indígena. Até para ter um filho precisam de mil e uma coisas.

Já nós, índios, não temos tantos caprichos assim. Se é para ter um filho, tem-se um filho até no intervalo entre uma caçada e outra.

A história da minha chegada ao mundo é mais ou menos essa. Contam os mais velhos da família que quando nasci meus pais estavam em uma aldeia pemón, visitando nossos parentes índios no sul da Venezuela. Era por volta do meio-dia, o seu Juca estava pescando e dona Neide tinha acabado de colocar a panela no fogo para aquecer a água e iniciar o preparo da damorida.

Ao sentir as primeiras contrações, dona Neide mandou uma menina chamar meu pai e depois entrou na cabana. Quando o (naquela época) jovem índio chegou, esbaforido, com a vara de pesca numa mão e os peixes na outra, eu, apesar de ter nascido com oito meses, já havia tomado meu primeiro banho e estava mamando tranqüilo.

Minha mãe, índia nova, formosa, cheia de energia, ainda teria reclamado da demora de seu Juca em trazer o pescado. Comeram a damorida, beberam um cadinho de caxiri e foram dormir la siesta. Eu, o indiozinho, herdeiro das tradições, já fiquei por ali, tranqüilo, dormindo sobre o tapete de palha no canto da cabana, sentindo o calor da fogueira.

Depois de um tempo, voltamos à cidade dos brancos e seus costumes estranhos, como o resguardo de não sei quantos dias para a mulher enfraquecida pelo parto e o impedimento de comer um monte de coisas.

Já falei para a Zanny: se ela fosse ter o indiozinho nas aldeias ianomâmis, o moleque ia nascer no meio da selva, onde teria o cordão umbilical cortado com uma folha de árvore. Nada de muito tecnológico, com certeza, mas eficiente até hoje. E o moleque ainda seria mais saudável que muito menino de branco.

Mas ela insiste em quebrar as tradições de minha família e ter um filho no hospital, com anestesia e um monte de médicos. Coisas de mulher criada na cidade dos brancos.