segunda-feira, fevereiro 07, 2005

Histórias da folia

Num desses carnavais da vida passados e trabalhados em Boa Vista, comentei com o Tiago que, por mais que tentasse, nunca havia conseguido um amor na folia de Momo, dessas que todos meus amigos e amigas conseguiam por poucas horas. Ele, na maior naturalidade, explicou tudo.
- O problema é que tu és venezuelano e quer ficar conversando com elas. O negócio é chegar, puxar para dançar, dizer que quer beijar e pronto. Se não quiser, parte para outra. Simples assim.

Sobre essa dificuldade, acho que a melhor explicação para a falta de sorte no carnaval foi-me dada pelo meu primo Oliver, também venezuelano, na cidade de El Callao, onde se celebra a melhor festa do sul da Venezuela, com até 20 mil turistas pulando alucinados ao ritmo das comparsas tocando calipso.
Pouco mais de 30 minutos depois de chegados na cidade, ele já estava pendurado no pescoço de uma menina que nunca havia visto na vida. Sumiu com ela, transou e voltou para a folia. Na outra noite, passaram um pelo lado do outro como se nada. E essa facilidade para conquistar todo tipo de mulher ele tinha desde entrado na adolescência.
- Acontece que eu tenho carisma e tu não. Sem carisma, não se consegue nada.

Na mesma cidade de El Callao, talvez no mesmo carnaval, estávamos os dois esperando uma carona à uma da manhã para voltarmos às nossas casas em Guasipati. De repente, Oliver, que estava deitado no capô de um carro, saiu atravessou a rua e fez sinal para eu também fosse. Cansado, fiquei parado, olhando o dono do carro abrir o porta-malas e balbuciar algumas palavras em minha direção. De repente, puxou uma pistola prateada, de cabo preto, e a apontou para mim, que estava hipnotizado pela beleza da arma, pensando que o infinito estava concentrado no negro daquele cano.
- É assim que acabo com as ratazanas, disse-me o sujeito, que só não atirou na minha cara pq seu amigo o fez abaixar o braço, tirou a arma dele e me pediu para sair dali. Só fui perceber o quanto estive perto da morte no outro dia, quando comprava uma Pepsi-Cola.
E o pior é não ia ter carisma que desse jeito.




Nenhum comentário: