quinta-feira, dezembro 02, 2004

Falando de uma viagem

Ao entrar na Venezuela, no posto de fiscalização, a revista do Guardia Nacional:

Desça de carro
Documentos
O que tem no bolso?
O que tem na pochete?
O que tem na carteira?
Que tipo de moeda você carrega?
De onde você vem, para onde vai?
Você é deste, daquele ou do outro estado? Parece.
O que você faz na vida e no Brasil?
Ok. Pode guardar. Fulano, vai checar o senhor? Sim, por ali, por favor.

Na tenda militar, quente e abafada:
Documentos
O que tem na pochete?De onde você, para onde vai?
O que você faz na vida e no Brasil?
Tem crachá? Posso ver?
Hum, jornalista é periodista? Tudo bem, pode ir. Nós levamos isso, quer dizer, eu levo em conta quando a pessoa tem uma profissão definida. Você sabe que tudo isto é procedimento rotineiro.

Na saída, depois que pego a bagagem, pela segunda vez neste ano ouço a frase, dita em tom de voz leve e esclarecedor aos outros Guardias: el chamo es periodista.

E aí eu lembro que a fronteira é uma rota de tráfico internacional de cocaína e me pergunto o que os Guardias fariam se fosse alguém sem um crachá, diploma ou profissão para ser referenciado.


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